14.10.09

Ruínas

 
Lembras-te daquela casa para onde corríamos juntos sempre que o mundo que nos rodeava parecia insustentável? Lembras-te de me segurares na mão, de entrelaçares os teus dedos nos meus e de juntos corrermos até à casa? Lembras-te da sensação de alegria, euforia e adrenalina que sentíamos a caminho de lá? E da paz que sentíamos ao lá chegarmos? Lembras-te de ali chegarmos de mãos dadas, a rir tanto que ficavamos com lágrimas nos olhos e dessas lágrimas se tornarem mais reais ao sentirmos que, naquele momento e naquele lugar não existia mais nada? Éramos ali, os únicos. E eu via-te olhar para mim como se o fizesses pela primeira vez.
Lembras-te da ilusão que sentíamos de nos completarmos um ao outro e, de ali ou noutro lugar qualquer, perto um do outro não pensarmos em mais nada nem ninguém? Lembras-te de acreditarmos que a união que tínhamos era tão forte que nos libertava de tudo o resto? E também do medo imenso que esse sentimento causava da possibilidade de nos perdermos? E quando esse medo chegava eu via-te olhar para mim como se o fizesses pela última vez.
Lembras-te de nos termos perdido na nossa paixão e medos? Lembras-te de nos termos perdido? Um ao outro; um do outro...
Acho que era mais simples se amor fosse uma equação matemática em vez de um sentimento! Mas não é assim que funciona. Ninguém gosta doutra pessoa pelas qualidades que ela tem, o gostar não tem razão. O verdadeiro amor é empático, magnético. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro nos transmite ou pelo tormento que nos provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela forma como os olhos se olham, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Ama-se justamente por tudo o que o amor tem de indefinível.
Existem sempre pessoas mais honestas do que a pessoa de quem se gosta. Existem sempre pessoas mais bonitas e mais inteligentes, pessoas mais fascinantes e com ideais de vida mais próximos dos nossos. Pessoas há muitas!
Mas ninguém consegue ser o que o amor da nossa vida é.
Lembras-te daquela casa para onde corríamos juntos e de mãos dadas, cegos pelos nossos sonhos, onde mais nada nem ninguém exitia?
Eu lembro-me. Todos os dias.
E do dia em que a casa caíu.

(Julho 2008)

8 comentários:

  1. Nunca senti um amor assim que me levasse a recordar o que vivi com uma pessoa. Sei do que tás a falar porque te conheço e entendo a intensidade que falas. :)

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  2. Adorei este teu...texto! Deixaste-me a pensar, sentir e até sonhar... =) gosto uando escreves "assim"! ;)
    Obrigada por este bocadinho maravilhoso!

    Bjs ternurentos! snif ;) Lol

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  3. Anónimo14.10.09

    bem, que texto sentido e profundo...e triste! de ficar sem fala...de ficar sem respiração. um beijinho...

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  4. As lembranças são a melhor sensação que podemos ter, mas tem que lembrar com o coração, paz.

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  5. Adorei este texto Raquel. O amor é irracional sim, por muito que tentemos explicá-lo resume-se a sensações, a momentos, a cheiros, a rotinas, a coisas que só nós sabemos dele e só ele sabe de nós. O amor não se explica nunca, é um amontoado de coisas que se vive.
    E é bom podermos recordar.

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  6. foto met een zeer aparte sfeer ...

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  7. Vim aqui sem ser convidada, através do blogue de uma amiga...que te segue. Aos poucos, deixei-me vencer pela tua escrita e estaria aqui a ler-te durante horas.
    Este texto prendeu-me, ainda mais...talvez porque me revejo nele...porque também a minha casa caiu...talvez porque, tal como tu, são os cheiros e o olhar que não consigo esquecer.
    Desculpa a invasão. Voltarei mais vezes...se não te importares.
    bj
    Nina

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  8. Obrigada a todos pelo feedback!
    Nina, só seria uma invasão se o blog fosse privado ;), és sempre bem-vinda!
    Beijinhos a todos xx

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