29.10.09

A maior distância entre nós és tu

Cada vez mais tenho a sensação de que as pessoas não falam. Nem umas com as outras, nem muito provavelmente consigo mesmas. Parece que quanto maior e mais exagerado é o nosso acesso e uso de sistemas de comunicação, limitamos o que temos a dizer a curtos mails, a sms's abreviados, e quando se está junto só se fala de nada. Sinto falta de conteúdo, de fundamento, da base para uma conversa com princípio, meio e fim. Estou farta de diálogos do nada, como lhes chamo, em que há um princípio e, algures ao chegar ao meio as palavras perdem-se, ninguém se ouve e cada um só está preocupado consigo mesmo, com o que quer dizer e ouvir. Estou cansada de conversas que ficam em aberto, que não levam a lugar nenhum e de pessoas que têm medo de conversar de uma forma franca, profunda, complexa e séria. Se eu quisesse ouvir merdinhas e disparates, ou pura e simplesmente apenas aquilo que me satisfaz, comprava um papagaio. Não tenho nada contra papagaios, gosto de animais. São as pessoas que me incomodam, principalmente aquelas que me lembram de animais. Por exemplo, conheço muito papagaios - falam, falam, falam e não dizem nada, só por gostarem de se ouvir a si mesmos. Se os egos e as vaidades matassem...
Nos últimos tempos tenho aprendido muito sobre pessoas que tinha na minha vida e que achava serem muito viradas para si mesmas, e o mesmo sobre pessoas que achava serem mais low profile. Hmm... é curioso como o andar do tempo e o mudar das coisas nos muda também a nós. Mas uma vez vendo as coisas de verdade, como se vai fechar os olhos? Nem tento! Tenho pavor a cegueira... parece que coisas especiais aparecem de lugares inesperados e onde esperávamos algo... somos deixados pendurados, até o ego de outra pessoa (aquela pessoa que achavamos estar sempre presente) ter vontade de vir até nós e quando lhe bem apetecer.
F###-##!!!
Quando é que o egoísmo te levou para longe? Ou será que foi sempre assim e era eu que não via o que não queria ver?
Fala comigo - da forma certa. Conversar é falar e ouvir, é receber e dar. Estou farta de ruas com um sentido, começam a ficar pequenas e estreitas demais para tanta gente.
Princípio, meio e fim.
Ainda bem que vivo num país onde as pessoas ainda sabem como é que se deve ter uma conversa e como é que se deve ser amigo.

28.10.09

Ás vezes parece que foi ontém que deixei Lisboa, numa manhã de Outono, outras vezes parece que o último mês que lá passei já foi há mil anos luz atrás! Dividida entre um estado de euforia e um aperto no peito, foi um mês de organizar, planear, arrumar, empacotar, transportar e fazer coisas que senti que tinha que fazer antes de partir. Não as fiz todas, mas as mais importantes!
E finalmente, numa manhã de sol de Outubro, depois de encher o porta-bagagens do carro com quase tudo o que me pertencia, despedi-me rápidamente dos meus pais e irmã e parti, rumo à Holanda.
3 dias e meio mais tarde, algumas paragens em Espanha e França, muitos músculos doridos, muitos CD's tocados e algumas multas por excesso de velocidade depois, entrei na Holanda. E quando passei essa linha geográfica senti-me finalmente em casa. Chegara onde queria estar! Este tinha sido o momento que passara os últimos meses a planear! Num momento desses não há saudades do que ficou para trás, não há uma consciência clara do que está para vír, num momento desses só se sente euforia e entusiasmo pelo começo de algo tão novo! E, sem quaisquer expectativas, apenas uma alegria enorme por algo novo estar prestes a começar, passei a primeira noite em claro, ansiando o nascer do sol para saír à rua e começar a observar, a sentir, a viver este novo lugar...
Passei por um período de uns 3 meses ao qual chamo "lua-de-mel" - uma lua-de-mel com tudo à minha volta, com este novo lugar, novos cheiros, caras que nunca vi, sítios ainda por descobrir, comigo mesma! Depois veio a parte de mim que começou a sentir vontade de iniciar projectos, de me ocupar. E então resolvi arranjar um emprego para passar o tempo, daqueles empregos onde muito pouco é esperado da nossa capacidade intelectual, uma vez que ainda nem se fala a língua, mas que naquela altura foi ideal. Pouca responsabilidade, mas uma boa lição do que é trabalhar na Holanda e com holandeses. E depois de um dia de trabalho - lições de Holandês! Aprender uma língua nova, quando tem mesmo que se o fazer, pode ter momentos giros e momentos de desespero quando achamos que nunca será possível compreender ou falar esta língua tão esquisita que não soa a nada que conhecemos! Mas não há nada que o tempo, a força de vontade e a persistência não conquistem e, 1 ano e meio depois fiz o meu exame nacional de holandês e passei! Com direito a diploma e tudo! Foi o que precisava para me poder inscrever na Vrije University em Amsterdam e terminar aqui o meu curso de Psicologia. E esse foi exactamente o passo que dei a seguir.
Voltar a estudar foi estranho. As memórias que sempre guardei dos tempos de universidade em Portugal são tão boas e tão marcantes na minha vida que não pude deixar de evitar fazer comparações a toda a hora. A universidade aqui é excelente em termos académicos, mas o ambiente e os colegas deixam muito a desejar, ou pelo menos foi o que senti... também há uma boa possibilidade de o facto de já não ter 18, 20 ou 22 anos me tenha feito ver a vida universitária com menos entusiasmo... Mas não desisti!
Ás vezes penso o que faço aqui, tão longe da família, de amigos, do sol e calor... mas a verdade é que mesmo que a Holanda não seja o meu "lugar de sonho", é a minha casa. E também já aprendi que este "lugar de sonho" a que me refiro existe dentro de mim, viajar à volta do mundo à procura dele não adiantaria - está mesmo aqui, em mim, e sempre presente!
Fiz daqui um lar, uma família, um grupo de amigos, uma vida e sinto-me feliz. Alguma vez voltarei para Portugal? Não sei. Alguma vez sairei da Holanda? Não sei. Há respostas que não preciso de ter. Agora estou feliz e isso é que importa!
O que me surpreende nisto tudo nem é a facilidade com que me adaptei e com que fiz aqui uma vida para mim. O que mais me surpreende é a rapidez com que tudo aconteceu, agora olhando para trás quase que não acredito que já tenham passado 9 anos!...
9 anos... voaram acelaradamente, mas não perdi nada! Ganhei mais do que está à vista - um auto-conhecimento gigante e rico que só entende quem já tenha passado pelo mesmo. Nem a psicanálise teria tido este mesmo efeito!
Não me arrependo de nada e fico por aqui, com a certeza absoluta de que, se recuásse no tempo até 9 anos atrás, teria feito exactamente o mesmo naquela manhã de sol de Outono, ao entrar para o carro rumo a algo novo e desconhecido, com uma vontade enorme de viver e perdidamente apaixonada por ti!




25.10.09

Hora de Inverno

(photo by P.T.)
Vivo com um optimista. Isso tem as suas vantagens e as suas desvantagens. Há sempre algo curioso no acto de se olhar as coisas através da perspectiva de outra pessoa. Com ele ganhei um pensamento mais positivo em relação a tantas coisas e a possibilidade de ver o lado melhor das coisas quando menos parece ser possível deixou de ser algo que invejava noutros, para ser algo que também consigo fazer. Todos os dias recebo um enorme embrulho de optimismo e boa-disposição, sob diferentes formas: um assobiar constante durante o banho, um cantarolar pela casa, um sorriso de orelha a orelha ao chegar a casa e ver-me, pequenos gestos que me enchem de emoções tão fortes que nem consigo descrever, mas que às vezes me deixam com os nervos à flôr da pele... como hoje. Quando estou que ninguém me aguenta, não há nada que funcione!
Não aguento abrir a janela de manhã e sentir um frio horrível, ver um céu cerrado de nuvens cinzentas e chuva a caír, e a pessoa com quem eu vivo olha para isto e diz: "Ah que dia maravilhoso de Inverno!"


What the f###???
Está a gozar comigo ou quê? Depois de alterar todos os relógios da casa para a maldita "hora de Inverno", e fi-lo de trombas e a resmungar ouvi: "Ah, tão bom a hora de Inverno! Significa que temos uma hora extra para dormir!"


What the f###???
Significa que os dias vão tornar-se cada vez mais minúsculos e que às 5 horas da tarde já é de noite, isso sim!

Vivo com um optimista, e muitas vezes isso anima-me. Hoje não.
É oficial: O Inverno começou e é Domingo - combinação perfeita :(

Feeling stuck


(photo by PiXie)
(photo by Alice atrás do Espelho)
Num post mais antigo já tinha feito referência a um espaço que significa muito para mim. Significa tanto, e tem-me feito tanta companhia nos últimos tempos que não consigo evitar voltar a mencioná-lo.
Há lugares por onde andamos que nem sempre nos acolhem, que nem sempre são os lugares onde gostaríamos de estar naquele momento. Depois há lugares que nos perseguem em sonhos, lugares onde gostaríamos de estar mas nem sempre temos coragem para encontrar o caminho até eles. E finalmente existem lugares onde conseguimos ficar tão próximos de nós próprios, através de tudo o que nos oferecem, lugares que nos surpreendem por vermos tanto de nós mesmos neles, como se aquele lugar mais nada fosse do que uma fotografia a preto-e-branco e a cores da nossa alma. Como se a pessoa por detrás te todo aquele espaço se estivesse a referir a nós, a apontar o dedo a coisas nossas, a olhar-nos dentro dos olhos e a ver tudo aquilo que tentamos esconder tantas vezes do mundo, das pessoas e de nós mesmos.
Este blog pouco tem de mim. Pelo menos essa intenção não está mínimamente presente em nenhuma das suas imagens, palavras e sons. Mas que me reencontro tantas vezes nesta combinação de factores e sensações, encontro. E isso faz-me sentir não só mais próxima de mim mesma, mas também mais perto dela... e é esse o motivo pelo qual volto diáriamente.

As saudades são constantes. Não ando por perto para que as mate, pois isso seria inútil tentar. Ando por perto pela presença - não de mim nela, mas dela em mim.
...A verdade é que há pessoas que nos fazem sentir saudades, mesmo que estejamos mesmo ao lado delas...

* agora digo: se soa foleiro, e acho que sim, é de coração. Se soa verdadeiro, e sei que sim, é de alma. Se não soa a nada, mas se sente, é de corpo.

(é tarde... e as minhas palavras estão a lembrar-me de que devia ír tentar dormir...)

23.10.09

"A Vontade de Regresso"

Deixei-me levar com uma facilidade enorme desde o começo. Desde as primeiras palavras, as frases iniciais, e tudo o que estas por dentro me fizeram sentir que me deixei embarcar numa viagem única... numa viagem de emoções! E fi-lo com uma fragilidade e vulnerabilidade que poucas coisas me dão, certamente menos do que deixo transparecer.
Tive mais tempo livre esta semana do que é costume, o que foi mais uma confirmação do teu livro ter chegado às minhas mãos no timing certo. Mas nisso sou como aquela pessoa tão especial do teu livro, que se tornou tão familiar nos últimos dias e da qual sei que vou sentir saudades, e acredito que nada acontece por acaso. Nem mesmo o te ter reencontrado e ter podido ler este livro nesta altura me parece uma mera coincidência.
Sei que não és muito dada a doces, mas... conheces aquela sensação de se ter um rebuçado tão saboroso na boca que se quer trincar e provar depressa todo o sabor a açúcar, mas ao mesmo tempo faz-se todos os possíveis para contrariar essa vontade, deixando-o derreter-se devagarinho na boca para que não termine tão depressa?... Foi assim que me senti ao ler o teu livro... Não consegui abrandar o ritmo de leitura, mas algo em mim disse-me o tempo todo "calma, deixa durar...", até porque o medo de chegar àquela parte da "viagem" que já sabemos há muito tempo ser inevitável foi maior que tudo, foi mais forte que eu. Mas mesmo assim teimei em enfrentar o medo depressa e não consegui abrandar. Devorei cada palavra como se este fosse o último livro que fosse ler durante muito tempo.
Todos os que me conhecem sabem que sou uma amante da leitura, e uma sonhadora e romântica incurável. Mas não há muitos livros sobre os quais possa dizer ter encontrado tanto de mim mesma no interior de cada frase. Este sim. Desde o prazer pelo mundo e cidades desconhecidas e viajar, à sensação que cheiros de casas nos oferecem, à magia de lugares da cidade de Lisboa (muitos dos que se encontram neste livro, também são meus de escolha!), à relação entre pessoas, o amor pela arte, os laços emocionais com todas as suas complicações por natureza, à forma como se encara uma vida e uma morte, o recitar autores que se admiram, o amor pela escrita e por palavras, o que uma vírgula ou um pontozinho quase invisível pode fazer de diferença numa frase... podia ficar aqui durante muito tempo, mas a verdade é que prefiro não o fazer...
Sobre "A Vontade de Regresso" prefiro até nem dizer muito. Acho que cada um terá que lê-lo e, quem o fizer, senti-lo e viajar com - e na história, juntamente com as personagens e terminar quando quiser, e da forma que escolher - para si próprio. É um livro que permite ver-nos em outros, como que um espelho mágico, de uma forma curiosa. É um livro que sei que voltarei a ler um dia. É um livro que me deu vontade de muitas coisas que nunca perdi em mim, mas agora ao lê-lo a minha sede de as fazer tornou-se maior e isso faz-me sentir ainda mais viva!

Obrigada. Pelo "espelho", pelas palavras (tuas e de outros que também eu tanto admiro), pela música referida e que consegui ouvi-la na minha mente baixinho sempre que era referida, pelas imagens de arte que também já me fizeram viajar à procura delas em paredes de museus e que no teu livro revi, pelas emoções, pelos cheiros doces, pelos gostos mais amargos da vida que também conheço, pelas paixões, pela casa da Teresa com tudo o que tem lá dentro (de matéria e de espírito) e que parece que conheço tão bem... por tudo o que senti e que nem consigo pôr em palavras!
Obrigada e Parabéns!

22.10.09

Amigos...


(photo by PiXie)
Quando era mais nova achava ter 1 milhão de amigos e acreditava seguramente que eles iriam fazer parte da minha vida para sempre. Com o passar do tempo e o crescer, a vida ensinou-me a aceitar o facto desse grupo de amigos se ter reduzido a um grupinho mais pequenino. Mas com o passar dos anos também vi, senti, e aprendi mais uma vez que são poucos, mas bons (um cliché, eu sei). E foi a esses amigos que recorri quando mais precisei, foram esses amigos que sem colocarem questões me limparam lágrimas do rosto, foi para eles que sempre estive pronta a qualquer hora ou em qualquer lugar.
Mas o que faço agora, um pouco mais velha ainda, quando esse grupinho se começa a revelar ainda mais pequenino? Assusto-me com a ideia de sobrarem tão poucos e consolo-me com o tal cliché "poucos, mas bons".
A palavra "amigo" já não sai da minha boca com a mesma facilidade e rapidez que antes, e o próprio sentir amizade por alguém leva mais do que um "olá, bom dia, tudo bem?". Aceito isso, já aceitei desde que deixei de ter 18 anos. Mas o que fazer agora que já passei dos 30 e começo a repensar nos amigos que sobraram e que achava definitivamente que fossem para a vida e começo a sentir que me estão a faltar - pior: a falhar? Não consigo aceitar...
Ser amigo é estar-se presente para o outro, mesmo quando isso não convém, é deixar coisas de nós para trás para colocar as necessidades do outro em frente das nossas, é estar pronto para dar apoio sem que seja preciso pedirem-nos, é ser-se sensível aos sentimentos do outro, é mostar-se o que se sente, é dizer-se que se gosta e se é amigo em vez de se partir sempre do pricípio que o outro já o sabe, é manter os olhos abertos e estar-se presente de alguma forma, é pensar-se no outro, é ter-se atenções, é valorisar, é sentir e mostar interesse pela vida do outro, é cultivar-se a amizade que se partilha com o outro e não deixar apenas um dos lados fazê-lo...
Sinceramente, tirando duas amigas do peito que tenho na minha vida ("irmãs", como costumamos carinhosamente dizer) e dois reencontros especiais que tive recentemente com duas pessoas do meu passado, mas com quem sinto ainda aquela ligação, entendimento e cumplicidade forte de antes, sinto que o resto me está a falhar em grande. Onde estão eles? Onde estão respostas aos meus telefonemas ou e-mails? Onde estão mensagens recíprocas de interesse, saudade e dedicação? Amigos nunca nos deviam fazer sentir sózinhos.
... Ou será que sou eu que estou a complicar muito hoje?

21.10.09

Enchi um lago de lágrimas

Hurt,Peter Murphy
O telefone tocou por volta do meio-dia. Lembro-me de estar um dia de Verão óptimo - céu azul, sol, calor q.b., aquele cheirinho de Julho no ar que sempre me faz desejar que todos os outros 364 dias do ano fossem como este, árvores carregadas de fruta e flores em todo o lado. Depois de uns meses de Primavera onde tudo aqui, nos campos holandeses, renasce, há esta explosão ainda maior de côres e cheiros trazidos pelo Verão. Se os Invernos aqui conseguem ser lentos, chatos, escuros, frios, longos e deprimentes, a verdade é que somos recompensados em grande pela natureza entre os meses de Maio e Setembro!

Estava a preparar-me para ír até à "prainha do lago". É assim que lhe chamo, porque não é a praia como conheci toda a minha vida, com um areal interminável e o oceano atlântico, mas um relvado gigante a 10 minutos de distância da minha casa, onde zonas para picnic foram construídas a bom-gosto, uma zona para passear e brincar com os cães, uma zona com diversões para crianças, uma zona para grupinhos de amigos hippies que se juntam ao final de uma tarde de Verão a fumar erva e a tocar djembe e didjeridu, uma zona com cadeirinhas de madeira para idosos que no meu entender só mesmo aqui na Holanda observam aquele grupo de jovens com uma certa curiosidade, sorrisos e até admiração, porque é tão bom ser-se jovem e ter-se a vida inteira pela frente (viva a tolerância!), uma zona para se andar de patins em linha e skateboard... uma zona para tudo mesmo! Tudo o que se possa pensar fazer ao ar livre num dia de Verão, os holandeses pensaram, planearam e tornaram possível. Fantástico - tudo tão organizadinho! Até as árvores têm uma função de oferecer sombra num dia quente e foram plantadas exactamente à mesma distância entre umas e outras. Um verdadeiro jardim-puzzle onde tudo tem uma função muito específica! Esta ordem e funcionalidade é uma das coisas que mais aprecio na Holanda e mais sinto a falta quando aqui não estou, mas também é uma das coisas que mais detesto... há limites para tudo e se há coisas que oferecem vantagens, há desvantagens também - como a falta de espontaniedade. (Como é que se pode improvisar quando já está tudo planeado, pensado e criado para nós?)
Naquele dia de verão, uma caminhada com os meus queridos cães, brincar com eles no relvado e depois avançar para o espaço de areia à beira da água do lago, e nadar um bocado na água limpa e fresca do IJsselmeer pareceu-me perfeito! Com tudo pronto, mochila às costas com toalha de praia, livro, protector solar, uma garrafinha de água e tijela para os cães e uma coca-cola para mim, trelas e bola de ténis... sim, estava pronta! Que dia de Verão! Passei meses de Inverno à espera deste momento! Estava sentada na bicicleta a tentar equilibrar-me de mochila às costas, com trelas compridas nas mãos, que me puxavam mais depressa do que escolheria pedalar, mas se há coisas que cães sentem rápido é quando umas horas de brincadeira e divertimento se aproximam e, como crianças pequenas, não conseguem esperar! Lembrei-me de que tinha deixado a máquina fotográfica em cima da mesa da sala e voltei para trás para a ír buscar. Como se precisasse de ainda mais fotografias dos cães dos que as que já tenho! Mas sou uma "dona-babada", não há nada a fazer!
Parei a bicicleta à porta de casa e deixei os meus dois cães presos nas suas trelas ao volante da bicicleta enquanto entrei em casa para pegar na máquina. Eles ficaram com um ar confuso a olhar para mim, como quem diz: "então, não íamos fazer nada giro hoje?" (são momentos destes que me fazem imaginar tantas vezes como eles soariam se falassem... ahahah!), e nesse olhar confuso soltaram um "wof" de protesto, mas tinham que esperar mais um minuto ou dois. Ou pelo menos foi o que pensei na altura. Quando abri a porta de casa o telefone estava a tocar. Soava como sempre, um triiim-triiiim irritante que me faz detestar tantas vezes telefones, mas como senti uma urgência no toque atendi-o, caso contrário dada a situação e o dia lá fora teria ignorado qualquer chamada!
Era uma amiga minha, de Portugal. Como senti muito rápidamente que este telefonema ía demorar mais do que uns curtos minutos, pelo som da voz dela ao dizer "... Raquel?... Sou eu...", avancei com o telefone portátil preso entre a minha cara e o ombro lá para fora, libertei os cães das trelas presasà minha bicilceta e trouxe-os para dentro de casa comigo. Eles nem sequer protestaram, apenas deixaram-se caír na mantinha deles com um ar vencido. "Parece que afinal não vamos a lado nenhum hoje", diriam se falassem... mas suspiraram ao deitar-se na mantinha fofa e em menos de 1 minuto já estavam a dormir e a roncar. (Quem disse que vida de cão é dura, mentiu!)
Depois de me libertar da mochila que trazia às costas, que naquele momento pareceu começar a pesar 30 quilos, e de a atirar para um canto da sala, sentei-me no meu sofá, suspirei, mudei o telefone do lado esquerdo para o lado direito do meu rosto e, sentindo-me preparada para o pior disse-lhe - "Ok amiga, estou aqui, diz..."
- "Tenho uma notícia triste para te dar."
- "Sim, eu sei, diz..." E antes que ela dissesse mais alguma coisa, naquele momento silencioso entre uma frase e outra, ouvi o que ela ainda tinha que me dizer. Não o ouvi da boca dela, ouvi-o no coração, confirmando a sensação que tinha tido momentos antes ao ouvir o toque do telefone soar com uma urgência brutal. Depois disso só me lembro de ela começar a verbalizar o que eu já sentia. Como uma cena de um filme, a voz dela soou a um eco incompreensível e mesmo assustador, uma voz medonha a afastar-se para longe... cada vez mais longe... até deixar de ouvir fosse o que fosse. Não sei ao certo quanto tempo fiquei sentada no sofá, a fixar o chão de telefone na mão, até ouvir a voz dela novamente, desta vez já nítida, a perguntar-me com alguma preocupação "Ainda tás aí...?" Não sei se o meu cérebro se desligou por uns momentos, ou se algum mecanismo de defesa fez com que a mensagem dela me fosse dada a ouvir numa voz distorcida e incompreensível, mas a verdade é que não fez diferença nenhuma. Sabia o que a levara a ligar desde o momento que tinha atendido o telefone. Consegui recompôr-me e antes de lhe responder, ainda de olhos fixados no chão da sala, pensei para os meus botões "Tenho que aspirar este chão!"
Resolvi recostar a cabeça que girava a mil à hora na almofada do sofá e fixar o meu olhar no tecto da sala, que pareceu tornar-se cada vez mais baixo e apertado causando-me um enjôo enorme e uma sensação tão claustrofóbica que me fez levantar e abrir a porta traseira para o quintal. Sentei-me lá fora ao sol, a apanhar o ar fresco deste dia de Verão na cara, dia que me parecera antes de todo este telefonema como o dia perfeito, e senti-me como se estivesse a recuperar os sentidos após um desmaio. Nesse momento apercebi-me de que ela continuava do outro lado da linha, a chamar por mim e a tentar entender como eu estava deste lado. Pedi-lhe desculpas, mas tinha que desligar. Prometi ligar-lhe de volta mais tarde e, sem sequer esperar por uma resposta dela, desliguei o telefone.
Por uns momentos respirei fundo, tentei acalmar o bater do meu coração que estava tão acelarado que me podia ter morto naquele instante, levantei-me e comecei a andar em círculos pelo relvado do meu quintal . Os meus cães juntaram-se a mim, pensando provavelmente que a dona já estava pronta para brincar com eles, finalmente. Mas só consegui ignorá-los, o que os fez voltar para dentro de casa muito depressa e deitar-se outra vez na sua manta, lado a lado, para adormecerem e começarem a roncar 2 minutos depois, novamente. (sim, vida de cão é difícil!...)
Num acto de teimosia mental, de não querer acreditar no que momentos antes uma amiga minha já há mais de 20 anos e em quem confio a 100% me tinha dito, no achar que ela tivesse tido a bela ideia de me pregar uma partida de muito mau-gosto, peguei no telefone e marquei um número de Portugal que ao fim de tantos anos a minha boa memória nunca deixou escapar. Precisei de o fazer, para que a informação que a minha amiga me tinha dado pudesse ser confirmada. E foi. Mesmo assim, ainda insisti em marcar mais um número de telefone que também tinha na minha memória para que uma terceira pessoa me dissesse o mesmo. Desta vez fiz daquelas perguntas idiotas do tipo "Tem a certeza?", como se houvesse alguma margem para erros numa situação destas. Ou se está vivo ou se está morto, é tão simples e tão frio quanto isso. Não há espaço para talvez, para ainda não se sabe, para logo veremos.
Acho que só depois de ter falado com a terceira pessoa ao telefone é que a realidade entrou de facto em mim. Comecei a sentir, a pensar, a sofrer. Doeu, mas foi um alívio saír daquela confusão mental e emocional em que me encontrava desde o telefonema da minha amiga. E quando a minha mente se deixou convencer da realidade, o meu corpo deixou-se afogar num choro profundo e doloroso durante horas seguidas. Só me lembro de ter chorado assim, tão intensamente que parece que estamos a vomitar a nossa própria alma, uma vez na vida. Desta vez doeu ainda mais, porque não havia nada a fazer. A morte é irreversível.
Saí porta fora, de cara vermelha e olhos tão inchados que mal os conseguia manter abertos, sentei-me na bicicleta e pedalei numa fúria e revolta enormes até à prainha do lago. Os meus cães ficaram a dormir em casa, não sei se protestaram ou não, ou mesmo se deram por mim saír, porque na altura nem me lembrei deles. Cheguei à prainha, e sem tirar sequer a roupa que tinha vestida deixei caír-me na água do lago, que parecia saber exactamente do que eu estava a precisar e estava gelada! Nadei e chorei até me sentir exausta e foi um alívio. Ali, na água do lago, a sentir-me sózinha e isolada de tudo, consegui desprender-me da revolta e da raiva que estava a sentir. Deixei-me boiar uns momentos na água do lago e nas minhas próprias lágrimas, e só saí da água quando me senti mais leve. Apercebi-me de que foi horas mais tarde, quando ao voltar para casa vi os ponteiros do relógio marcar 18 horas. Tomei um duche quente, fiz um chá, tomei uma aspirina na ridícula esperança de que este químico também tirasse dôres como a que estava a sentir, e deitei-me no sofá de olhos fechados, cansados e doridos. Acordei mais tarde quando chegaste a casa e passei uma noite tranquila e maravilhosa contigo ao meu lado, sem ser preciso dizer rigorosamente mais nada, para além do que tinha acontecido. Os teus braços à minha volta, as festas que me deste no cabelo, a televisão que deixaste desligada mesmo sabendo que o teu clube de futebol jogava um jogo importante nessa noite, a tua compreensão do meu sofrimento e o nada ser perguntado ou dito, foi o melhor apoio que me pudeste dar. (Quem disse que o amor cura tudo tinha razão!)

Há coisas que nunca se esquecem. Momentos que marcaram as nossas vidas e pessoas que passaram por esses momentos. Sei que nunca vou perder totalmente estar dôr de ter passado pela tua morte, mas o que vou lutar para manter vivo em mim são todas as boas memórias da tua vida.
Mas o que sinto agora ainda é um vazio que dói...

Acabou-se.
Ponto final.
Fim de história.
(Julho 2008)

20.10.09

A vontade de ler(-te)

É uma das coisas que mais gosto - começar a ler um livro novo! Depois de alguns dias ou até semanas, dependendo do livro, envolvida com personagens que se tornam a cada página mais familiares, lugares que deixam de ser estranhos para passarem a ser frequentados por mim a cada capítulo, emoções que podiam ser as minhas e outras que não conheço, embora admire a forma como o autor do livro as consegue pôr em palavras fazendo com que também eu as sinta, depois de todo um crescer de acontecimentos e emoções, chegar àquele ponto em que sei que o final está próximo... não só por a história me sugerir tal, mas o facto de só ter 3 páginas restantes para ler ajuda! Depois de todos estes e muitos outros factores que representam a magia de ler um livro, ao fechar um que termino de ler, passo normalmente por dois diferentes processos - ou fico presa àquela história durante alguns dias ou mesmo semanas, sem conseguir ler mais nada ainda, ou procuro um livro novo muito depressa!

Foi o que aconteceu ontém. Estava a terminar o livro que andava a ler há 2 semanas quando recebi um novo, enviado por correio azul, pela própria autora e minha amiga. Dei por mim a acelarar o tempo com que estava a ler o final do outro livro, para que pudesse iniciar este o mais depressa possível. Ás vezes leio diferentes coisas ao mesmo tempo, mas este quero lê-lo com calma e sem nada a interferir!



Enviaste-me não só um livro, mas mais importante o teu livro e uma vontade diferente de ler. Obrigada!

19.10.09

Cedinho...

Na tentativa de criar um despertar mais agradável todas as manhãs, substituí o meu despertador "bip bip bip" por um despertador-rádio, com CD e tudo! Na altura pareceu-me uma excelente ideia e pensei que se acordasse repentinamente ao som da minha música de escolha em vez de acordar num susto pelo irritante biiiiiiiiiiiiiiiiiiip, o sacrifício seria menor. Não podia estar mais errada. Se havia CD's na minha lista de preferidos, depois de os ter usado como método de acordar de manhã, já não os posso ver, ouvir nem pensar neles! Uma verdadeira cena "pavloviana" sem recompensa nenhuma.
O problema é que não gosto de ser acordada. Gosto de acordar cedinho, adoro as manhãs, mas o ser acordada é que não me deixa no melhor dos humores. Tenho fama de ser do pior durante as 2 primeiras horas do dia, e acredito que para quem tenha que levar comigo isso até seja verdade.... não chateio ninguém, tenho que dizer, não discuto nem crio briguinhas, mas o meu silêncio é tão profundo que é o suficiente para pôr qualquer um ao meu lado nervoso. Já me disseram que era preferível o meu mau feitio se revelar doutra forma, nem que isso significasse discutir! Nunca entendi muito o que isto queria dizer, mas enfim... é cedo e prefiro ficar calada! Nunca acordo infeliz ou verdadeiramente mal-disposta tenho que dizer. Se acordasse assim nos últimos 33 anos de vida acho que já tinha elouquecido ou dado um tiro na cabeça! Mas sou de facto calada de manhã. Preciso de acordar devagarinho, preciso do meu cafézinho, do meu livro ou jornal, do meu ritual matinal onde prefiro que não entre mais ninguém.
Foi o que aconteceu hoje, por isso nem me posso queixar! O despertador lá estava programado para as 7h00m, mas 3 horas antes acordei. Acordei com aquela sensação física de que já tinha dormido tudo o que havia para dormir, embora só me tivesse deitado à 1h00m da manhã, o que significa nem ter dormido muito. Mas senti-me 100% acordada e senti-me bem (o ter acordado naturalmente em vez de ser o despertador a fazê-lo ajudou!), por isso levantei-me e aqui estou eu, a beber o meu cafézinho (porque sem ele a manhã não é como devia ser!).

Tudo ainda dorme - cá em casa, aqui na rua, a natureza e os pássaros... sinto-me a esta hora completamente tranquila e sózinha e adoro isto todas as manhãs! Mesmo que não acorde tão cedo como hoje - é isso que tenho de manhã e que outros, à minha volta, interpretam como mau-acordar, mau feitio, humor matinal... gosto é de calma e silêncio! Manter-me calada, na minha própria mente durante as primeiras horas do dia é uma necessidade e um prazer, não um protesto. É quase tão importante, ou mais ainda, que este cafézinho! Pena que pessoas que acordem a assobiar e a cantarolar não entendam isso, mas para ser justa, também não entendo a euforia mantinal, até porque me parece sempre forçada.
Sinto-me como se fosse o único ser a já estar acordado nesta 2a feira (embora saiba que a esta hora já há muitos desgraçados sentados ao volante do seu carro ou em transportes públicos a caminho do trabalho), mas gosto desta sensação - o mundo ainda descansa, o sol ainda está deitado, nada se move... só me oiço a mim e acho isso tão tranquilizante!
Sei que mais logo tenho imensas coisas para fazer, pessoas com quem lidar e falar, relatórios para escrever... mas agora, neste exacto momento, sou só eu, tranquila!

16.10.09


 
Há dias que são para esquecer. Desde o primeiro momento em que abrimos os olhos de manhã sabemos que não está nada no lugar e que não há voltas suficientes que se possam dar durante as próximas 24 horas para mudar isso. Então aceita-se, segue-se em frente neste dia chato em que tudo custa a fazer, mas sabemos que será um dia para esquecer. Um dia em vão, sem significado nenhum. Um dia em que nada acontece nem nada muda. Um dia que está no caminho, a empatar tudo o que gostaríamos de facto estar a fazer. Um dia que não nos traz nada de novo.
Hoje é um dia para esquecer, um dia neutro, um dia quase inexistente. Pena que seja "quase", se o hoje fosse já ámanhã não me importava rigorosamente nada.

15.10.09


(photo by PiXie)
Aqui está a chave. A chave que me pediste, durante tanto tempo e com uma insistência que quase me levou à loucura. Aqui está ela, já na fechadura. Se é tão importante veres com os teus próprios olhos o que te digo de coração aberto querer guardar para mim, apenas por haver coisas que são minhas, então é só usares a chave. Não há truques nas minhas palavras, não há bluffs nem partidas.
Preferia que não a usasses, mas faças o que fizeres este assunto morre aqui, com um pedaço de mim. Insisto em dizer-te que não há aqui nenhum truque, nada que pareça ser uma coisa sendo outra! É apenas o que sinto.

(Abril 2008)

14.10.09

Ruínas

 
Lembras-te daquela casa para onde corríamos juntos sempre que o mundo que nos rodeava parecia insustentável? Lembras-te de me segurares na mão, de entrelaçares os teus dedos nos meus e de juntos corrermos até à casa? Lembras-te da sensação de alegria, euforia e adrenalina que sentíamos a caminho de lá? E da paz que sentíamos ao lá chegarmos? Lembras-te de ali chegarmos de mãos dadas, a rir tanto que ficavamos com lágrimas nos olhos e dessas lágrimas se tornarem mais reais ao sentirmos que, naquele momento e naquele lugar não existia mais nada? Éramos ali, os únicos. E eu via-te olhar para mim como se o fizesses pela primeira vez.
Lembras-te da ilusão que sentíamos de nos completarmos um ao outro e, de ali ou noutro lugar qualquer, perto um do outro não pensarmos em mais nada nem ninguém? Lembras-te de acreditarmos que a união que tínhamos era tão forte que nos libertava de tudo o resto? E também do medo imenso que esse sentimento causava da possibilidade de nos perdermos? E quando esse medo chegava eu via-te olhar para mim como se o fizesses pela última vez.
Lembras-te de nos termos perdido na nossa paixão e medos? Lembras-te de nos termos perdido? Um ao outro; um do outro...
Acho que era mais simples se amor fosse uma equação matemática em vez de um sentimento! Mas não é assim que funciona. Ninguém gosta doutra pessoa pelas qualidades que ela tem, o gostar não tem razão. O verdadeiro amor é empático, magnético. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro nos transmite ou pelo tormento que nos provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela forma como os olhos se olham, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Ama-se justamente por tudo o que o amor tem de indefinível.
Existem sempre pessoas mais honestas do que a pessoa de quem se gosta. Existem sempre pessoas mais bonitas e mais inteligentes, pessoas mais fascinantes e com ideais de vida mais próximos dos nossos. Pessoas há muitas!
Mas ninguém consegue ser o que o amor da nossa vida é.
Lembras-te daquela casa para onde corríamos juntos e de mãos dadas, cegos pelos nossos sonhos, onde mais nada nem ninguém exitia?
Eu lembro-me. Todos os dias.
E do dia em que a casa caíu.

(Julho 2008)

Can you see it?


(photo by PiXie)

13.10.09


Ser apanhada de surpresa é algo que nem sempre gosto. Depende muito do momento, da forma como me sinto nessa altura, das pessoas ou coisas envolvidas e, claro, da surpresa em si. Donde é que a surpresa aparece, sob que forma chega ou por quem nos é dada?... Esses aspectos podem fazer de uma surpresa um susto, nunca se sabe... mas também é isso que torna o efeito surpresa interessante!
Ontém à noite tive uma surpresa óptima, daquelas que nos enchem de alegria, nos fazem sentir calmos e que nos relembram quais são as coisas que importam para nós. Coisas que já sabemos à priori que são importantes e das quais nunca nos esquecemos, mas quando há momentos que nos oferecem uma garantia ainda maior da sua importância (e de que esta importância e sentimento são mútuos) da sua existência e mesmo da sua eternidade, não há mais nada que possa estragar o dia! Foi a maneira ideal de terminar um dia cansativo, foi uma satisfação enorme!
Telefonaste-me de surpresa, tão de surpresa que me levou quase 60 segundos a perceber quem estava do outro lado da linha, o que nos levou a partilhar daqueles ataques de riso que temos tantas vezes juntas e que o resto do mundo felizmente não entende - aqueles risos são só nossos! Foi óptimo conversar contigo, partilhar as coisinhas que partilhamos sempre que falamos ou estamos juntas... ontém ao telefonares, matáste um bom pedaço das saudades que sinto sempre de ti, e obrigada por isso! Ao ouvir-te senti-me mais próxima de ti, de nós, das nossas cumplicidades e confidências. Ao falar senti-me mais leve e tranquila pois sei que me ouves realmente e não tenho dúvidas nenhumas de que me entendes sempre, tal e qual como sou e sem eu nem sequer ter que explicar muito do que quero dizer... às vezes só preciso de dizer uma ou duas palavras e sei que tu sabes logo do que estou a falar e o que estou a sentir.
Só te posso dizer que o ouvir-te e o sentir-te do outro lado da linha foi como uma canção de embalar... fui dormir mais feliz e com uma sensação de que tinha tido um dia completo!


Adoro-te amiga, e queria deixar isto aqui. Beijos e até à próxima surpresa, venha ela donde vier ;)

O solitudo, sola beatitudo

A liberdade de me deixar ficar num certo ponto ou de decidir mover-me... em que direcção quero fazê-lo, o não ter que pensar em mais nada ou ninguém, o ter únicamente nas minhas mãos tudo o que ficou para trás, tudo o que virá e quais as esquinas que vou espreitar...
Se é uma escolha, a solidão é um luxo! Se nos é permitida, a solidão é preciosa! Se nos é retirada, a liberdade desaparece... uma morte de espírito diagnostica-se...
Gosto da minha solidão, aquela que preciso para me sentir viva e que procuro e cultivo de tempos a tempos. A liberdade para a poder ter ninguém controla, essa é só minha, e quem a tentar apanhar terá que viver isolado, privado - de mim.


(photo by PiXie)
Fevereiro 2006
Gostava de te conseguir ouvir e de saber o que pensas... de te conseguir ver mover, de ouvir o teu coração pulsar ao abraçar-me aos teus troncos. Sinto uma vida imensa, longa, intensa, antiga, sábia e única em ti!
Sei que estás aí, mostra-te...

(photo by PiXie)

11.10.09

Fog

O nevoeiro mostra-nos um caminho diferente daquele que conhecemos, mesmo que não o vejamos...
(photo by PiXie)
Observar a natureza no Outono...



(photo by P.T.)
... é ver novas formas de vida que nascem nesta altura do ano...

(photo by PiXie)
... pisar os rastos do que as árvores perdem e vê-los completar outros elementos...


(photo by P.T.)
... as côres únicas de vidas mágicas oferecidas pela natureza fascinam-me...

(photo by PiXie)
... estação de nostalgia, mas de uma riqueza enorme - a natureza morre, e renasce em outros lugares sob diferentes formas e côres. Árvores despem-se ao fim de meses de vida e vestem um chão de castanhos e dourados.
Gosto do Outono, mas sem entender porquê também eu me sinto sempre muito despida e frágil nesta altura do ano em que tantas mudanças acontecem à minha volta...












O que fica por dizer é muitas vezes o mais importante

Todos nós pensamos muitas vezes coisas sobre alguém ou em determinadas situações que por mais que gostassemos de o transmitir não o fazemos. Muitas vezes só se torna claro como gostavamos de ter reagido depois da situação passar, quando a cabeça já esfriou. Todos nós temos isso... ou sou só eu?
Gostava de conseguir fazer uma lista de coisas que diria ou perguntaria a alguém, em situações em que às vezes me vejo metida... há coisas banais e sem importância nenhuma, tipo a empregada de caixa de um supermercado que é mal-criada até dizer chega... gostava não só de a mandar à merda (o que já cheguei a fazer algumas vezes, quando era mais nova e achava que devia perder tempo e gastar as minhas energias com um combate de boca), mas de lhe perguntar o porquê daquela maneira de lidar com as pessoas e a vida; a mãe que grita alto e impacientemente no meio de um parque de estacionamento para que os filhos entrem para o carro mais depressa; o casal que faz uma cena no meio de um centro comercial cheio de gente em volta, sem vergonha na cara; o velho caquético de 80 anos, de bengala na mão e artrite que insiste em atravessar a rua fora da passadeira, levantando a bengala em forma de protesto por os carros não lhe abrirem caminho; a cigana de saias compridas que me tenta impingir óculos de sol Prada a 20 euros (verdadeiros, claro!) usando como argumento de venda que precisa de comprar um pratinho de sopa para a criancinha que traz ao colo; aquela mulher que conversa ao telemóvel com a melhor amiga no autocarro durante o percurso de volta a casa depois de 8 horas sentada num escritório sobre aspectos íntimos e privados da sua vida, em alto e bom som para que todos os outros passageiros a possam ouvir; a empregada de loja que não nos responde ao dizermos "bom dia" e continua a limar as unhas; um colega de trabalho que tem mau hálito ou cheira a transpiração... porquê? Porque é que há tantas coisas no dia-a-dia, mesmo as coisas mais pequeninas e se olharmos bem sem importância nenhuma, mas que pensamos e não dizemos? Há coisas que entendo que nem vale a pena dizer! Mas também há outras, dependendo das situações e das pessoas envolvidas, que gostariamos de dizer ou perguntar sem nunca o fazermos... porquê?
Se eu pudesse fazer uma lista de todas as coisas que penso e que gostava de dizer ou de perguntar e não o faço, seria uma lista interminável! Ás vezes não o faço por achar que não faz sentido ou diferença nenhuma, às vezes não o faço por não me preocupar o suficiente, às vezes não o faço por só me aperceber do que poderia ter dito mais tarde, às vezes não o faço por não querer magoar os sentimentos de outra pessoa... mas a verdade é que gostava de o fazer mais, e gostava que fosse aceitável fazê-lo - quando se faz com respeito, entre amigos, com as melhores das intenções. Mas continuo a achar que as pessoas levam tudo muito fácilmente a mal, e também gostava de lhes perguntar porquê.
Concordo que vivemos num mudo em que se dissessemos tudo o que pensamos sem controle nenhum seria um caos, acho que devemos moderar as nosssas palavras e a forma como manifestamos as nossas opiniões, é uma questão de respeito pelos outros e considero arrogante dizer-se tudo quando não se tem direito a dizer tudo (nem tudo nos diz respeito!). Mas mesmo assim sinto que ainda há uma barreira enorme, mesmo entre amigos, de coisas que se sentem e se pensam mas nunca se dizem. E é aqui que este assunto mexe comigo - entre amigos, entre familiares, entre pessoas que significam muito umas para as outras e em situações verdadeiramente importantes. A empregada de caixa de um supermercado, a cigana na rua, o velho caquético, esses fazem-me pensar por vezes, mas a verdade é que não têm importância nenhuma e são apenas exemplos. Os amigos sim, são importantes. Se não posso ser honesta com eles e eles comigo, com quem então?
Há tempos falei com uma amiga ao telefone que resolveu partilhar comigo aspectos da vida - não da vida dela, mas de uma outra amiga que temos em comum. Desde relações amorosas, a emprego, a aspectos de saúde... tudo na vida dessa nossa amiga em comum a preocupava e ela resolveu partilhar essa preocupação comigo. Nada de errado nisso, se virmos bem. Mas quando se tornou claro para mim ao longo da conversa de que ela não tinha ainda conversado com a pessoa em questão nem tão pouco intencionava fazê-lo, o que parecia ser uma preocupação normal por alguém que se gosta começou a soar-me a fofoca e senti-me incomodada com aquela conversa toda. Acabei por dizer o que estava a pensar e ao que parece passei dos limites ao dizer a verdade a uma amiga que conheço há mais de 12 anos, coisa que achava poder fazer, porque ela desligou-me o telefone na cara e desde então não ouvi mais nada dela!
Esta barreira é menor na Holanda do que em Portugal tenho que dizer, e se também tive que me habituar a um tipo de frontalidade ao qual não estava habituada (e sempre me consideraram frontal e directa!), prefiro isso - preto no branco, as cartas na mesa, o saber como as coisas realmente são, o jogo aberto, o não ter que estar com cuidadinhos desnecessários, o confiar que um amigo não usa bluffs comigo. Espero isso de grandes amigos: que me abram os olhos quando tendo a fechá-los, que me sacudam quando tendo a adormecer no momento errado, que me alertem para perigos se os virem a aproximar, que me magoem se fôr preciso para evitar que eu o faça a mim mesma. Amizade e amor não têm que vír sempre na forma de coisinhas doces e cor-de-rosa. Não sejam tão cautelosos, não façam cerimónias! Sou eu, somos nós - amigos no verdadeiro sentido da palavra! Não estamos em nenhuma entrevista para um emprego, jantar com a família real ou num encontro político!
Para além disso, se há coisas que se conseguem dizer nas costas, porque não dizer na cara? Onde está a dificuldade nisso?... Falar nas costas deveria ser bem mais difcícil, não acham?

9.10.09

(photo by Dantez)
Ah, sexta-feira! Um dia que por mais agitado que seja parece nunca pesar muito, porque se sabe que o fim-de-semana está à porta. Quando era mais nova a sexta-feira costumava ser um dos dias mais agitados das minhas semanas. Depois de uma semana inteira a cem à hora (mas com o mínimo de responsabilidades possíveis diga-se de passagem, já que a vida de estudante e a viver-se em casa dos papás não se pode comparar à vida que se ganha depois de se crescer), ainda me aguentava a manter o mesmo ritmo às sextas-feiras e, o mais incrível, esse ritmo aumentava para duzentos mil à hora às sextas à noite! Nunca me cansava e estava sempe pronta para mais!... Agora que penso bem, não era só às sextas... as quintas, as terças e os sábados também eram excelentes noites para ír saír! Como é que eu aguentava? Não sei. E embora as minhas vontades tenham mudado com o passar dos anos (e ainda bem!), às vezes gostava de ainda ter aquela energia toda, mas para fazer as coisas que gosto de fazer agora. Hoje em dia é tão fácil sentir-me cansada e não ter tempo para tudo!...
É muito diferente, em tantos aspectos, ter-se 17, ou 19 ou 22 anos! E agora que já tenho 30 (+ 3, ahahah!) não só preciso da tranquilidade dos meus serões como gosto dela. Gosto de chegar a casa à noite depois de um dia de trabalho, de atirar com os sapatos para um canto, libertar-me de todos os pensamentos que me possam prender a alguma obrigação, de jantar com o prato ao colo e de me atirar para cima do sofá a ver os meus programas de televisão preferidos, os meus filmes, de explorar a internet ou de nem sequer ligar a televisão e o computador e de ficar a ler até os olhos pesarem num sinal de que está na hora de me ír deitar! E às sextas-feiras aprecio exactamente o mesmo, com uma satisfação ainda maior por saber que no dia seguinte não tenho mesmo obrigações nenhumas ("espera até teres filhos!" dizem-me amigas minhas... Ok, eu espero então! ahahah).
Aos fins-de-semana à noite adoro ficar acordada até perder a hora! Sim, continuo a gostar da noite, isso não mudou com o passar dos anos, desde que não me metam num lugar cheio de gente com os copos, aos saltos e aos gritos, e música aos altos berros! Estou a ficar velha (já estava à espera que estas palavras me saíssem desde que comecei a escrever!).
Para mim o que define uma boa noitada hoje em dia é o que fazemos tantas vezes aos sábados à noite: um jantar aqui em casa ou em casa de amigos, na companhia dos amigos mais chegados e queridos, com música agradável de fundo a um volume aceitável para que nos possamos ouvir uns aos outros, é o sentarmo-nos à mesa durante horas a conversar, a debater, a dizer nem que seja só disparates daqueles que só amigos entendem entre si. É o partilhar-se mais do que umas bebidas e umas danças, mas é o estar-se juntos no verdadeiro sentido da palavra. É o ver-se um filme juntos, apertadinhos num sofá pequeno demais para todos, é o improvisar-se umas almofadas no chão para uns lugares extras em frente à televisão, é o chorar-se juntos com a beleza de um filme ou o rir-se até às lágrimas com a comédia de outro, é o falar-se do livro que se está a ler, é o mais tarde sentir-se juntos a noite a terminar com um cansaço colectivo agradável e olhares cúmplices por se sentir exactamente a mesma satisfação de uma noite tão bem passada, é o viver-se, celebrar-se e sentir-se a riqueza que é ter um círculo de amigos assim.

... Hoje é sexta-feira - noite para ver "Top Gear" (gozem se quiserem, mas acreditem que nem precisam de ser amantes de carros para delirar com este programa! O bom gosto e o humor british é excelente e não há como não gostar!) e "Weird Weekends" de Louis Theroux, que nunca me aborrece e sempre me faz querer ver mais! Hoje é sexta-feira - noite dedicada à BBC das 8h00m às 22h00m. Depois disso, logo se vê. Não tenho planos. Talvez veja um filme, talvez leia um livro, talvez telefone a um amigo de quem tenho saudades e passe horas na conversa... não tenho nada planeado. Porque é fim-de-semana!
De uma coisa sei: o grupinho habitual vai juntar-se aqui ámanhã para mais uma noite especial, como todas são quando este grupo de pessoas se junta no mesmo lugar e à mesma hora.
Bom fim-de-semana!

7.10.09

Ryuichi Sakamoto 坂本 龍



Ainda me surpreendo com a quantidade de pessoas que não sabem quem este senhor é, nem nunca ouviram a sua música. Quando faço mais uma tentativa e digo "compositor da banda sonora do filme The Last Emperor" lá recebo um "aaah.... já sei" (ou então, como também aconteceu uma vez "The Last quê??"). Mas poucas foram as pessoas que encontrei que sabiam exactamente do que eu estava a falar quando falava de Sakamoto e entendiam exactamente o que eu dizia sentir ao ouvir as suas composições.
Cresci numa casa cheia de discos e livros, por isso aprendi desde muito cedo muitos nomes do mundo da música e da literatura, mesmo talvez daqueles que só mesmo bons entendedores como os meus pais conhecem. Por isso não quero soar arrogante nem muito crítica para o caso do nome Ryuichi Sakamoto não vos dizer nada, mas deixo aqui esta música como dica. E espero que escutem de ouvidos bem abertos, que sintam de coração cheio e mesmo que se comovam, com a beleza destas notas que tanto dizem sem nada ser dito...

Máscaras do quotidiano

 
Sempre gostei de máscaras. Não as compro, não as uso em festas de carnaval, nem tão pouco encheria uma parede da minha casa de máscaras vindas de outras partes do globo. Mas o que é certo é que quando vejo máscaras - seja em museus, em lojas de antiguidades ou naqueles tipos de lojas que normalmente estão desarrumadas e com tudo ao molho, que vendem artigos de todas as partes do mundo, e mesmo em casa de pessoas que ao contrário de mim se atrevem a enfeitar uma parede da casa com todos os tipos de expressões emocionais, diferentes côres e materiais, não consigo para de olhar. Ás vezes é como se cada máscara tivesse uma alma, uma presença, mas que não se vê realmente. Sente-se no entanto... por detrás de si mesma. É como se cada máscara escondesse algo. E no fundo é esse o significado de uma máscara - o disfarce, o esconder de uma identidade.
Máscaras têm sido usadas ao longo de todos os tempos com diferentes propósitos - lúdicos, religiosos, artísticos, como objectos de protecção, durante festejos como casamentos em certas partes do mundo e cerimónias de passagem entre a vida e a morte feitas em certas tribos africanas. Não há como não as considerar fascinantes, misteriosas... mas mesmo assim têm algo que considero assustador, talvez o aspecto de que falava antes, de me fazerem sentir que há algo que têm mas que não revelam, que há ali algo que não se vê...
Mas as máscaras que mais me assustam nem são estas, não são as máscaras que vejo em museus, em casa de colecionadores ou em lojas. As máscaras que mais me assustam são aquelas que nem damos conta existirem. Aquelas que as pessoas usam todos os dias, no dia-a-dia, e que só tiram quando regressam a casa ou estão sózinhas. As máscaras que mais me assustam são aquelas que quem as usa já nem se lembra muitas vezes de as usar, deixando escapar com o passar do tempo quem se esconde por detrás daquela máscara e acreditando cada vez mais ser-se o que a máscara mostra ao mundo. Quando os disfarces se tornam tão frequentes que definem o que se é. Quando já não se sabe quem se é, ou pior, quando já nem se quer saber.

6.10.09

Adeus constipação!

Hoje é o primeiro dia depois de uma semana miserável que me sinto finalmente melhor. Estar doente é uma merda! Muitos espirros, ataques de tosse, lenços de papel, cházinhos de limão e spray para o nariz depois, sinto-me agora como se tivesse de ressaca! Uma ressaca de uma constipação holandesa, como gosto de lhe chamar, uma vez que embora não seja gripe e não nos dê febre, deixa-nos incapacitados de funcionar normalmente. Felizmente tive uma óptima ajuda aqui em casa, um enfermeiro de serviço e cozinheiro, mas a verdade é que por mais que goste de alguns carinhos e atenções, quando estes vêm por falta de capacidade da minha parte de fazer seja o que fôr por mim mesma, a frustração e irritação que sinto são maiores do que agradecimento! O que faz de mim uma doente insuportável, diga-se de passagem. Ao fim de um ou dois dias a canjinhas preparadas com muito amor, carinhosos gestos e esforços para fazer com que eu me sinta o melhor possível, farto-me. Não só me farto de estar doente, como me farto da pessoa que tenta cuidar de mim... (bitch da minha parte, eu sei!)
Se o estar doente nunca durasse mais do que 48 horas até era bom, de vez em quando, ficar de cama! Como não é o caso, neste momento sinto-me agradecida por já me sentir melhor, e também pelo apoio que recebi nestes dias que passaram.
Desculpa-me se fui uma chata (e eu sei que fui!) e obrigada por não desistires nunca de mim!