27.8.10

Num festival de música em que tudo o que é prometido acontece (e mais ainda) em termos de experiência, desde convívio com todo o tipo de pessoas, ambiente descontraído em que paira no ar uma dose extrema de alegria, animação e paz, bom som e dança, muitos comes e bebes, um terreno de extensão gigantesca, 72 horas de diversão, tendas de piercings, tatuagens, "cut the crap" (nome que algum génio anónimo resolveu dar a tendas-cabeleireiro/ barbeiro, para os que se atrevem a cortes, designs coloridos, cristas e máquinas-zero sob influência de substâncias várias ou apenas pelo gozo, sem se lembrarem que uns dias depois regressarão ao local de trabalho), zonas de chill-out com puffs ou camas de ar, smart shops, coffee shops, ligação à entrada do parque Six Flags onde se encontram as montanhas-russas mais doidas que se possam imaginar, tendas de teatro e filmes, tendas de arte, livros, fotografia, lagos onde gansos, patos, cisnes, barquinhos e gaivotas (daquelas a pedais) acrescentam ao divertimento uma dimensão elevada de comédia (já que não é todos os dias que se vê um grupo de punks ou de heavy-metals a pedalar gaivotas com piercings dos pés à cabeça e t-shirts de Metallica, Motorhead ou prints do género: "wake me up before you blow blow"), num festival onde o nível de segurança, bom nível, educação e respeito entre todo o público, seguranças, polícias, pessoal de atendimento geral, assistentes médicos é tão elevado que só se acredita vendo (uma vez que como em qualquer outro festival de música o uso e abuso de álcool e drogas é elevadíssimo e a variedade de tipos de pessoas tão grande, extremo e oposto), num festival em que fui dizendo (sentido e acreditando!) "só vou mesmo pela música!", num festival que foi este ano melhor do que nunca, fui apanhada de surpresa! LOWLANDS 2010 - uma experiência que foi além da música e da dança, mas que por tantos outros motivos (alguns já referidos acima) nunca vou esquecer. Sim, que fui pela música é verdade. Mas não foi a música que ouvi, nem os concertos a que assisti que me vão ficar guardados na memória destes dias...
Imaginem um lugar no mundo onde durante 3 dias e 2 noites as pessoas mais divertidas, mais simpáticas, mais interessantes, mais carismáticas, mais pacíficas, mais risonhas, mais descontraídas e mais verdadeiras se juntam... um lugar onde durante 3 dias e 2 noites nada mais existe e em mais nada se pensa - para além de música, convívio, dança, "live and let live", "accept and enjoy one another" e, para um cliché ainda maior: Peace on Earth! :D

Dia #1
Sol. Calor. Abertura oficial do festival Lowlands 2010. A adrenalina vê-se no olhar de cada pessoa que espera ansiosamente para entrar e quando as portas se abrem deixa-se de se ser um para se tornar parte de um todo - composto por 50.000 mil pessoas. Assusta, de início sentimo-nos pequenos e vulneráveis admito, mas sabe bem! Até porque muito depressa esse "medo bom" desaparece e se sente em casa, entre uma família, junto de pessoas que pedem desculpas se nos tocam sem querer com o cotovelo ou nos pisam o pé. Vê-se e sente-se logo onde se está e com o que se pode contar ao olhar em volta: desde pais com filhos que vão de tendas de campismo passar 3 dias diferentes, avós e avôs de adolescentes que se cruzam uns com os outros entre palcos de música techno e música popular holandesa (a nossa música-pimba, sem tirar nem pôr, mas cantada numa língua mais esquisita), pessoas conhecidas da televisão e rádio holandesas, bolinhas de sabão vindas sabe-se lá de onde - mas andam no ar por todo lado e a toda a hora, como o cheirinho a pipocas, cachorros-quentes, pizza e algodão doce (e erva, já que estou a falar de cheiros)... é como quando se vai pela primeira vez na vida a um parque de diversões: abre-se uma porta para uma alegria e um sorriso que se sabe, neste caso, que vai durar 72 horas!

* ponto alto deste primeiro dia: tudo acima descrito, o muito mais que vi e senti sem que consiga encontrar verbos para o descrever (nem acho que possua vocabulário sufucientemente rico que possa fazer justiça ao dia que passei) e os concertos de Selah Sue, Caribou, The Kooks, I am Kloot e The Specials.

* ponto baixo deste primeiro dia: ser mulher e, como tal, ter que enfrentar filas intermináveis para utilisar uma wc (wc's impecávelmente limpas, tenho que dizer!)


Dia #2
Sol. Calor. Tudo acima referido, mas melhor ainda, o que faz com que a minha capacidade de descrever o dia seja maior. Há coisas que se sentem, mas que por serem tão intensas não se conseguem descrever... tipo uma foto tirada de um pôr do sol único e magnífico, mas ao ver-se a foto conclui-se sempre que o resultado nunca é igual ao que se viu no momento em que se tirou a fotografia... é aquele feeling... que só se pode sentir e lembrar, mas que não se pode explicar por palavras - não de uma forma perfeita, pelo menos. Ás vezes ainda se tenta, mas fica-se sempre com aquela impressão do tipo "não, também não era bem isso, nem assim que eu queria dizer..."  E para evitar essa frustração que é para mim não me conseguir exprimir, nem vou tentar fazê-lo melhor agora. Por um lado, ainda bem que é assim - acho que é isto mesmo que distingue momentos de momentos únicos.
Posso dizer que com o calor a apertar e a multidão a ambientar-se a cada minuto que passava, a roupa ía saindo do corpo e dando lugar a biquinis, calções, pés descalços, banhos de lago e mangueira e sorrisos maiores ainda!

* ponto alto deste segundo dia: duas viagens seguidas na montanha-russa Goliah, e os concertos de Jesca Hoop, Foals, Blood Red Shoes, LCD Soundsystem e Beach House.

* ponto baixo deste segundo dia: ser mulher e, como tal, ter de enfrentar filas intermináveis para utilisar uma wc (wc's impecávelmente limpas, tenho que dizer mais uma vez!)

Dia #3
Sol. Calor. E por mais que gostasse de falar deste terceiro e último dia do festival com todas as honras que acho que são merecidas, não consigo. Aqueles amigos que dizem sempre que eu escrevo e descrevo tão bem coisas, pessoas, momentos e situações, vão ficar extremamente desiludidos de certeza! Mas não dá mesmo... talvez daqui a uns tempos quando a memória ainda estiver fresca, mas as emoções menos intensas (acho que é isso que me rouba as palavras)...

* ponto alto deste terceiro dia: Ter encontrado uma tendinha excelente de um cozinheiro português (o Sr. André) onde passei o dia a encher-me de bicas e pastéis de nata, Wallis Bird, The National, Thirty Seconds to Mars, The xx, Placebo, Massive Attack e Queens of the Stone Age.

* ponto baixo deste terceiro e último dia: ser mulher e, como tal, ter de enfrentar filas intermináveis para utilisar uma wc (wc's impecávelmente limpas, refiro ainda mais uma vez por achar quase milagroso isso ser possível!), o fecho oficial do festival às tantas da manhã e o ter de abandonar o terreno em direcção ao carro, juntamente com tantas outras caras de fim de festa, debaixo de uma chuva torrencial que ajudou à "festa" de encerramento e umas bolhas nos pés a mais.

(the day after: trying very hard to return to this planet, to land on the daily life... from the Lowlands experience)...
* no way I'm missing this in 2011!..........

Thank you so much to Jules, for making this possible...
 I'll never forget it!
Lots of love xx

( more pictures I took from Lowlands here: http://www.facebook.com/album.php?aid=2044990&id=1139202525&l=9a1001b606 )

17.8.10

Perdida entre as páginas de um livro que resolvi reler, encontrei uma carta de 5 páginas escrita com uma letra linda e bem desenhada, diria mesmo perfeita e sem erros... Ao pegar nas folhas de papel tão bem dobradas e tão bem guardadas ou mesmo escondidas, entre as páginas do livro, soube logo que carta era. Não é incrível o facto de uma carta que foi perfumada há mais de 10 anos atrás ainda cheirar?... A ti... e li.
Li tudo o que me escreveste naquele dia em que não tinhas mesmo mais nada que fazer com o tempo que passavas a contar os dias, e senti. Senti que foram palavras escritas com verdade e sinceridade, mas que infelizmente deitadas ao vento cedo demais. E ao ler-te esqueci-me de tudo o que esse vento forte e tempestuoso nos trouxe, e revivi apenas as tuas palavras daquela altura, daqueles momentos, o eu e o tu daqueles momentos que fez de nós "nós dois". Ao ler-te recordei também as palavras que eu usava para encher folhas e mais folhas de papel para te enviar - cheias de sonhos, amor, paixão e perfume!...
Li-te e lembrei-me apenas do bom, da esperança, do amor que se sente quando não se sabe mais nada da vida... li-te e perdi-me em saudades; não de ti admito, mas saudades de mim - de como eu era e sentia antes de saber mais das coisas do mundo. Que fase maravilhosa!... E não sinto qualquer tipo de arrependimento por teres sido Tu a fazer parte dela, parte de mim, parte de quem eu sou.
Foste a primeira pessoa a quem eu disse a palavra "Amo-te". Foste a primeira por quem o senti de facto e dizê-lo ganhou contigo um sentido novo, sem soar falso ou piroso! "Amo-te"... devo ter-to dito vezes sem conta ao longo dos anos que tivemos juntos... e ainda me lembro do teu olhar quando me ouvias dizê-lo!... Brilho, luz, calor, alegria, paixão, amor, sonhos, esperança...

Hoje já não to diria. Mas para mim mesma digo agora, que tive este momento "eu com a tua carta nas mãos", há um espacinho em mim que vai amar-te sempre.

Ainda não te fui ver como te prometi nos meus pensamentos, nos últimos 2 anos... não por falta de vontade, não por esquecimento, mas por medo... medo de te ver agora, onde estás, transformado em nada mais do que memórias de duas datas separadas por 34 anos de distância... medo que depois de te ver assim seja essa a imagem que me marque, que fique presa na minha cabeça. Prefiro as que tenho agora, pelo menos por hoje.

Beijo! xx