10.11.10

Distance Makes the Heart Grow VI

                            
Tinham passado 3 meses desde que haviam passado 5 dias juntos, numa cidade distante. A distância difícil que veio com a despedida no aeroporto era inevitavel e ambos começavam a sentir-se frustrados com a separação que parecia não ter fim á vista. No entanto, continuaram a lutar diáriamente como podiam para não deixar de acreditar, para não deixar de amar, para darem segurança, conforto e esperança um ao outro. Pelo menos até há 3 dias atrás.

Era o começo de Maio. Onde ela vivia notavam-se os primeiros sinais da primavera, algo que adorava! O cheiro do ar era outro, as árvores e os campos renasciam depois de um longo inverno, o sol ocupava o céu azul e as temperaturas subiam ligeiramente. Tempo de mudança, de (re)começo! Enquanto tirava um café na cozinha, olhou pela janela e perdeu-se nos pensamentos- tão cheios de dúvidas.
Há três dias que ele não telefonava, não escrevia, não enviava nenhuma mensagem... ela já tinha tentado ligar-lhe algumas vezes, mas as chamadas nunca foram atendidas. Começava a ficar insegura, sem perceber o que se estava a passar e, o pior que sentia, era uma preocupação enorme. Estaria ele bem? Não conseguia acreditar que ele se afastasse e calasse desta forma, a não ser que se tivesse passado qualquer coisa...
O que mais a deixava ansiosa era o sentir-se responsável por isso. Sentia-se impotente, sem saber com quem falar que lhe podesse dar notícias dele e, de café nas mãos, tentou não começar a chorar. Recordou a noite em que se encontraram meses antes, o momento em que ele chegou ao pé dela pela primeira vez, e a música que ele pusera a tocar no rádio do carro e que tanto a tranquilizara. Sentia agora uma falta enorme desse apoio que ele sempre lhe dava- fosse com uma música, com um gesto, um simples olhar, e mesmo as palavras certas nos momentos certos. Sentia-se sózinha e cheia de questões por responder. E queria tanto que ele não continuasse afastado, que lhe desse a ela também a oportunidade de justificar os motivos pelos quais lhe custara tanto tempo a dizer-lhe a verdade...
Anos antes, ganhara um segredo. Um que só havia partilhado com 5 pessoas. Um que se habituara a carregar, tão bem guardado, que ao ver-se numa situação de o dever partilhar não consegiu. Foi fraca, cobarde, e não encontrava nenhuma desculpa rasoavel para o ter feito. Mas fez. E fê-lo com consciência de que o dia em que finalmente lhe diria a verdade iria chegar e não havia como fugir dele.

A muitos quilómetros de distância, o dia começara chuvoso. A côr do céu sugeria no entanto que o tempo ía melhorar, por isso ele saíu sem casaco. Entrou no seu carro, estacionado á porta do seu prédio, e meteu-se a caminho do trabalho. Estava com pressa para lá chegar, simplesmente pelo facto de não ter tido tempo para beber café em casa e por saber que no escritório havia sempre café pronto pela manhã. Entre o trânsito da cidade, filas matinais e sinais vermelhos, com o rádio do carro ligado e um cigarro entre os dedos, não pensou em nada. Nem sequer imaginou que naquele exacto momento ela se sentava em frente a uma janela, com um café nas mãos, a pensar nele e a perguntar-se onde ele estaria...
Uns dias antes ela contara-lhe algo que criara este silêncio e afastamento da parte dele. Embora o tivesse feito com cuidado e com consideração, a verdade é que fê-lo tarde demais e ambos sabiam-no. Ela não estava a conseguir desculpar-se por isso, e o afastamento dele era a prova de que tinha errado. Ao volante do seu carro, sentia-se quase adormecido sentimentalmente. Estava confuso, magoado e não sabia como ía lidar com a situação em que se encontrava. Neste momento, nem sequer já sabia o que queria. Precisava de um tempo para pensar e assimilar o que tinha aprendido uns dias antes, e era o silêncio e o afastamento para com ela que o íam ajudar a fazê-lo.

Deixou a chávena de café ainda meio-cheia no lava-loiças e dirigiu-se para o banho. E foi debaixo de um duche de água bem quente que ela conseguiu fechar os olhos e largar as lágrimas que segurava há 3 dias. No rádio tocava uma música que conhecia, e cantou baixinho...
" I know it makes no sense but what else can i do
How can i move on when i'm still in love with you"...

(continua)

9.11.10

Distance Makes the Heart Grow V

                        
Breathless, Cat Power
Tinham passado 5 dias. A manhã acordou com um sol brilhante que aqueceu as ruas da cidade, fazendo o frio dos últimos dias caír em esquecimento. O apartamento estava silencioso e, apesar do sol que entrava pela janelas da sala iluminando o chão de madeira e as paredes em tom de pérola, sentia-se fria e vazia... Vazia era agora a casa onde passara 5 dias inesquecíveis, pensou- e o seu peito estava tão vazio, que pesava. Nada mais sentia que isso, e sentir algo menos naquele momento teria sido impossível.

Acordara horas antes, quando ele se levantou ao som do despertador programado no seu telemóvel para as 6 horas da manhã. Acordaram ao lado um do outro, como acontecera nas manhãs que antecediam este momento, mas acordaram em silêncio. Um silêncio muito diferente daquele que haviam já partilhado. Um silêncio sem expectativa, sem sedução, sem mensagem. Apenas silêncio.
Como partiam os dois nesse dia, embora que em horários e vôos diferentes devido ao facto dos destinos de regresso não coincidirem, levantaram-se e de uma forma quase mecânica, começaram a arrumar roupas, livros, objectos pessoais, cada um a fazer a sua mala - em silêncio.
Ele olhou-a no momento em que ela se virara para o roupeiro para de lá tirar as suas roupas, e lembrou-se do vestido que ela agora segurava perto da mala de viagem, e que vestira na noite anterior ao jantar. Ele achava-a sempre bonita e gostava do facto dela ser descontraída e de gostar de vestir calças de ganga e ténis, não usar maquilhagem ou muito pouca. Era a beleza natural dela que o atraía mais. A verdade é que a achava extremamente sensual e feminina, mas depois de a ter visto com aquele vestido comprido na noite anterior, aberto nas costas até um pouco abaixo da cintura, viu uma elegância e maturidade de espírito que o deixou sem fala. Sabia que ela possuía essa qualidade, mas ao vê-la chegar à sala de estar, onde ele esperava há uns 15 minutos dizendo algumas vezes: "Reservei mesa para as 8 horas!" numa delicada chamada de atenção para o facto de ela se estar a demorar, ao vê-la aproximar-se dele lentamente e perguntar-lhe: "O que achas?" voltando-se de costas para ele numa lenta piroeta provocadora, acentuando os pontos fortes do vestido. Ele expirou ao ver o vestido por trás, que exibia as costas despidas dela e as curvas naturais da cintura e ancas. Levantou-se, dirigiu-se a ela em passos largos e beijou-a.
"Vamos ficar antes aqui? Eu desmarco a mesa...? O que te parece?"- sugeriu ele, com um olhar desafiador.

E enquanto ela se movia de um lado para o outro do apartamento, a fazer a mala e a procurar coisas das quais se pudesse ter esquecido em qualquer uma das divisões, ele voltou a deixar-se perder na recordação da noite anterior, como fizera momentos antes ao vê-la guardar aquele vestido lindo na mala, que horas antes ele despira do corpo dela...

Era a última noite deles naquela cidade e ele insistiu, mais uma vez, para fazer o jantar. Dirigiu-se para a cozinha para preparar um algo ligeiro para os dois, enquanto ela descalçou os sapatos de salto para se sentar com os pés em cima do sofá. Apesar dos planos se terem alterado e terem decidido ficar em casa, ela deixou-se ficar - mesmo que descalça, de vestido. Antes de se sentar, colocou um vinyl no gira-discos e abriu uma garrafa de Pinot Noir para os dois. Deixou-se ficar sentada, a ouvir a música que tocava misturar-se com os sons de pratos e utensílos vindos da cozinha, e o assobio constante no ar que ele emitia sempre que estava na cozinha a preparar algo, fosse uma refeição de três pratos, ou uma torrada com manteiga. Ele gostava de cozinhar como tantas vezes lho dissera em conversas, mas foi ao vê-lo na cozinha nos passados dias que se convencera de facto que era uma paixão dele. "5 minutos!"- chamou ele da cozinha. Ela acendeu umas velas por cima da mesa pequena da sala, junto ao sofá, e jantaram ali os dois -sentados no chão, encostados ao sofá, e com os pratos ao colo. Jantaram, conversaram, riram, beberam mais um vinho, dois whiskys a seguir ao café, e quando ele acendeu um cigarro colocando um braço por cima dos ombros dela, num gesto que ela reconheceu como sendo "vamos fumar o cigarro juntos", ele perguntou-lhe: "Também estás tão triste como eu?". Olhou-a numa expectativa comovente, de quem passara as últimas duas horas a segurar aquela pergunta, sem coragem para tocar no assunto. Em resposta, ela tirou-lhe o cigarro de entre os dedos, colocou-o no cinzeiro e pôs os braços dele á volta do seu corpo. Deixou-se ficar encostada ao peito dele, sentindo-se abraçada e protegida, e por momentos acreditou que nada a fosse magoar. Olhou-o nos olhos e não foi capaz de dizer nada. Não precisava, ele via agora a tristeza dela, que chorava encostada ao seu ombro. Deixaram-se ficar assim por uns momentos, agarrados um ao outro com aquela força que só quem está prestes a ser separado usa. Ouviram-se, limparam as lágrimas um do outro, beijaram-se e voltaram a rir ao recordar os dias que passaram juntos e como tudo começara uns meses antes. Declararam e afirmaram com as letras todas o que sentiam um pelo outro e prometeram voltar a encontrar-se muito em breve, com a intenção desse vír a ser um encontro de tempo indefinido.
Fizeram amor no chão da sala, durante horas,  com uma paixão como se não houvesse dia de ámanhã.

"Não te esqueças daqueles sapatos"- disse-lhe ela, apontando para um par de ténis dele que ainda estavam dentro do roupeiro. Ele agitou os pensamentos da noite anterior para fora da sua cabeça e pegou no ténis para os arrumar na mala.
Uma hora mais tarde chegavam ao aeroporto de taxi. A tensão foi aumentando com passar dos minutos, e depois de uma curta espera para que ele fizesse o check-in, olharam-se e despediram-se em silêncio. Beijaram-se, sorriram de alegria um para o outro e já não foi preciso dizer nada. Tinham dito já tudo um ao outro que havia para dizer.
Mais tarde quando ela se encontrava novamente no apartamento agora vazio e grande demais só para ela, a fazer horas até ter que ír para o aeroporto outra vez nessa noite, olhou para o espaço vazio que ainda horas antes ele ocupara. E sentiu uma tristeza enorme ao olhar para o lugar onde se tinham sentado juntos nos dias que passaram, o lugar no chão ao lado do sofá onde jantavam e conversavam durante horas, todos os cantinhos da casa onde tinham feito amor... 
Resolveu ír esperar as próximas horas para o aeroporto. Estar ali sózinha na casa onde passara os últimos dias com ele, estava a ser difícil demais.

Acordou umas horas mais tarde com o som e batida das rodas do avião na aterragem. Torceu o nariz para si mesma quando os passageiros soltaram um aplauso, coisa que ela nunca achou necessário fazer. Lá fora chovia e estava um dia cinzento e ventoso. Um motorista de taxi ajudou-a a colocar a mala no porta-bagagens e perguntou para onde ía. Deu-lhe a morada de sua casa, e deixou-se encostar no banco traseiro do carro, de olhos fechados. Agora só queria chegar a casa, tomar um banho quente, comer qualquer coisa e ligar-lhe a dizer que tinha feito boa viagem. Perguntava-se como ele estaria. Sabia que ele tinha feito boa viagem pois recebera um sms umas horas antes, mas precisava de ouvir a voz dele.

Deviam ser umas 22.30 quando se sentou tranquila no seu sofá, a fumar um cigarro e a beber um Cardhu sem gelo de um pequeno copo de balão, pegou no telefone e marcou o número dele. "Estou?"- sentiu um calor no peito ao ouvir a voz dele do outro lado e sorriu de alegria quando ele, sem que ela tivesse tido tempo para falar, perguntou se era ela!...

(continua)

Distance Makes the Heart Grow IV

Burn, Jonneine Zapata
Se ela tivesse tentado pôr por palavras, adjectivos, verbos, frases, tudo o que aconteceu desde aquele beijo que ele lhe roubara há momentos atrás até ao final da noite, não conseguiria nunca. E sabia-o. E o facto de o saber e de sentir uma intensidade brutal que os unia como nunca tinha sentido antes, fê-la não querer pensar em nada. Apenas o estar ali com ele, o ser dele, a completava.
As velas já queimavam há umas horas e algumas começavam a apagar-se, deixando um cheiro a cera e a pavio queimado no ar, o que oferecia uma combinação perfeita com a temperatura da casa, a música no gira-discos, o aroma do vinho tinto e o fumo de todos os cigarros que haviam fumado juntos. Embora fumassem marcas diferentes de tabaco, sempre que acenderam um cigarro, partilharam-no e fumaram-no a dois. Um gesto natural, como se o fizessem há anos!
Ele puxou-a para mais perto de si pela cintura e beijou-a novamente, desta vez com uma determinação maior à qual ela não argumentou. Limitou-se a deixar os seus braços caídos e inclinar ligeiramente o pescoço para trás, num sinal de entrega completa.
Quando não se ouve mais nada para além do bater do coração dentro do peito e a própria respiração, quando não se consegue pensar por tanto se sentir ao mesmo tempo, quando se sente tão vulnerável de prazer nos braços de alguém, quando se esquece do mundo inteiro que existe lá fora, quando o que se achava saber revela-se ser muito mais, quando a pele transpira uma mistura entre dois perfumes diferentes, quando o corpo se transforma numa sensação quente que se move da cabeça aos pés e quando se sente um peso agradável no peito que podia ser um coração derretido... Quando não há mais nada no ar do que isto, quando duas pessoas se unem num momento assim, ama-se.
E ao senti-lo, ela tremeu num arrepio quente que a fez fechar os olhos para tudo o que existe, até ela mesma. Apertou-o contra si, deu-lhe um beijo nos lábios e um sorriso. Ele retribuíu-lhe os dois e abraçou-a, em silêncio.

E o único desejo que ficou foi o de que aquele momento não chegasse nunca ao fim. E foi essa a promessa que fizeram um ao outro, enquanto partilharam mais um cigarro e um copo de vinho...

(continua)

Distance Makes the Heart Grow III

  
Proof, i am Kloot
Quando entraram dentro do apartamento dirigiram-se automaticamente para a sala, onde sofás modernos e óbviamente confortaveis constratavam com peças antigas de mobiliário. Ela olhou todo o espaço em volta com o fascínio e beleza que sempre viu em design e arquitectura. E sentiu-se em casa, o que foi um alívio para ele ao perceber que ela estava satisfeita com a escolha.
Decidiram mutamente, sem sequer o terem que dizer, sentar-se no sofá da sala, a beber um vinho tinto e a conversar. Foi uma conversa tranquila, muito como tantas outras conversas que já tinham tido - sem obrigações nem pressões, em que se fala de tudo com uma naturalidade única.
Acho que houve um ou outro momento em que provavelmente se tivessem os dois apercebido de que, desta vez, estavam cara-a-cara e que a ideia era não só boa, mas assustadora ao mesmo tempo. Este era o momento que tinham planeado. O dia estava aqui. Era agora.
Felizmente para ambos, o prazer da companhia um do outro eliminou quaisquer inseguranças que se podessem ter metido no caminho. E, perdidos nos olhos um do outro, na voz, em todos os gestos e maneiras que antes deste momento eram só imaginadas, beberam juntos a garrafa de vinho e perderam a noção de espaço e tempo.
Tiveram conversas que já tinham tido antes, partilharam coisas novas, ficaram a saber o que ainda havia para saber um do outro mas que ambos tinham esperado por este momento para falar, e depois de alguns silêncios difíceis e esclarecimentos, perceberam de que estavam bem um com o outro.
Ela hesitou, no entanto, a certa altura dizendo "Secalhar não devia estar aqui...", frase que ele interrompeu ao dar-lhe um beijo apaixonado roubando-lhe todos os últimos pedacinhos de medo que ela ainda sentia.

(continua)


Distance Makes the Heart Grow II

                           
Wait, The kills

Já tinha anoitecido e as luzes da cidade iluminavam a rua onde ela esperava. A chuva tinha parado há algumas horas, mas as pedras do passeio ainda estavam molhadas e frias. Estava um noite típica de Janeiro, de temperaturas baixas e nevoeiro no ar. Nunca gostara de frio, mas naquele momento, enquanto o esperava, apercebeu-se de que nem o sentia e que até estava a apreciar sentir o cheiro da chuva no ar e ver o nevoeiro a abraçar as sombras da rua.
Estava nervosa e ansiosa por aquele momento tão esperado, mas sentia-se bem disposta. Viu que ainda faltavam uns 5 minutos para a hora que tinham combinado e acendeu um cigarro. Sempre achou interessante como, em momentos de espera, um cigarro é uma óptima companhia! E foi. Enquanto fumou deixou de se sentir agitada e conseguiu não pensar em nada. Pôs todas as ansiedades, medos, dúvidas e expectativas de lado e apenas ficou presente, à espera dele - de corpo e alma.
Foram uns 4 minutos mais tarde que um carro preto de vidros escuros encostou junto ao passeio onde ela ainda fumava o cigarro. Uma porta abriu-se e saíu de dentro do carro um homem moreno, alto, de rosto sério e postura misteriosa. Dirigiu-se a ela sem dizer nada, abraçou-a e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Depois olhou-a, sorriu e disse apenas "Finalmente!", ao que ela respondeu com um beijo tímido.
"Anda, vamos saír daqui."- sugeriu ele.
Com um braço á volta dos ombros dela dirigiu-a ao carro, esperou que ela se sentasse no banco ao lado do condutor e fechou cuidadosamente a porta atrás dela. Sentou-se ao volante e ligou o carro, mas não antes de a ter olhado com um sorriso que a preencheu, mas que podia ter tido muitos significados...
Dentro do carro criou-se um silêncio absoluto que tanto a assusta, mas que ele por sabê-lo, preencheu ao ligar o rádio e escolher uma música que sabia que ela gostava.
"Adoro esta música!" - disse ela, sabendo no entanto que ele já o sabia e que a escolha não tinha sido ao acaso. Mas foi só o que conseguiu dizer. Depois recostou-se na cadeira do carro e deixou-se levar, fosse para onde fosse, ao som da música que agora lhe trazia a calma que queria ter para este momento, com os olhos postos para lá da janela do carro, nas ruas daquela cidade mágica e os pensamentos perdidos...
(Meses depois deste exacto momento, ela recordou aquela noite e o momento em que um homem que um dia conhecera, era tão especial que escolhera uma música para lhe oferecer calma...)
Não mais do que uns 15 minutos depois, ele estacionou o carro á porta de um prédio antigo, lindo de morrer, e disse-lhe "Chegámos!". De seguida apressou-se a abrir a porta para ela saír, gesto ao que ela agradeceu com um sorriso trocista. Gostava de boa educação e apreciava estes gestos, no entanto sempre com um pequeno desconforto que nunca tinha conseguido decifrar.
Enquanto ficaram ali uns curtos momentos, a olhar a fachada Art Deco do prédio à frente do qual haviam estacionado o carro, ele falou baixinho no ouvido dela. As palavras fizeram-na sorrir feliz, de orelha a orelha.
Foi nesse momento que ela sentiu, verdadeiramente pela primeira vez, que tinha feito a escolha certa.
(Meses mais tarde ela viria a recordar também esse momento, por motivos que agora - de mãos dadas com ele a admirar a fachada do prédio que ía ser a sua morada durante os próximos dias, lhe eram impossíveis sequer imaginar.)

(continua)

Distance Makes the Heart Grow

                       
Forbidden Colors, Ryuichi Sakamoto
Foi num dia normal e tão igual a tantos outros que ela recebeu uma mensagem dele. Foi uma mensagem que a intrigou, claro, já que esse era o objectivo. Respondeu à mensagem, sem nada pensar ou esperar, senão com uma intenção simples e pura de mostrar apreço pelas palavras que lhe tinham sido cuidadosamente dirigidas. Todas as pessoas gostam de receber elogios, diz-se. Ela, no entanto, não sabia lidar bem com eles, a não ser se fossem dados de uma forma quase indirecta, subtil, discreta e sem aquela vaidade de ego que tantas vezes é transmitida por quem elogia outros. Há pessoas que elogiam para se sentirem melhor consigo próprias, esquecendo-se do verdadeiro significado do gesto. Mas aquele elogio, transmitido discretamente nas palavras de uma mensagem, fora diferente. De uma forma que ela não entendeu logo de imediato, de uma forma que ela ainda tenta entender hoje.
Com o passar do tempo - inacreditavelmente curto, de uma mensagem passou-se a muitas conversas, a muitas partilhas, a muitas horas "juntos". Descobertas, interesses, curiosidades, risos, silêncios - alguns deliciosos, outros mais rígidos, palavras e músicas, são apenas algumas das coisas que partilharam um com o outro durante uns tempos. E parecia que quanto mais partilhavam, quanto mais sabiam um do outro, maior era a vontade de se conhecerem melhor, de se entenderem, de saber mais e mais um do outro. Inevitavelmente, maior foi ficando a vontade de se verem. De descobrir se, na presença um do outro, tudo de mágico que parecia estar a acontecer e estarem a sentir ficaria intacto...
E, num dia que pareceu ter chegado depressa demais e ter demorado muito a chegar ao mesmo tempo, encontraram-se. Numa cidade que talvez nem fosse para nenhum dos dois a primeira escolha, mas tinha sido ali que tinham dito um dia virem a conhecer-se e há planos que não se querem alterar ou interromper, quase que por medo que dê errado.

(continua)

8.11.10

Chega

Chega de coisas que não posso mudar, de palavras sem sentido.
Chega de acções enganosas, de olhares premeditados, de gestos forçados.
Chega de pensar no que não existe e no que poderia ser.
Chega de sentir falta do que não tenho.
Chega de procurar o desconhecido, chega de correr riscos.
Chega! De tudo o que nada vale nem faz sentido - chega!

E tu, chega-te para perto de mim, devagarinho e ajuda-me a esquecer o resto... isso sim, chega-me.

5.11.10

                    
                             
Lost, Coldplay

Não sinto saudades de estar contigo. Não sinto saudades de ouvir a tua voz.
Não sinto falta de olhar-te nos olhos e de me perder
no brilho que eles escondem.
Não tenho saudades de te tocar ou abraçar,
e de sentir o cheiro do teu pescoço ao fazê-lo.
Não tenho saudades de te segurar na mão e brincar com os teus dedos.
Não tenho saudades de cada linha e ruga do teu rosto.
Não tenho saudades Tuas.
Sinto é uma falta imensa do conforto que era saber
que ainda És, Estás, Vives.
A única certeza que agora tenho é a de que,
não importa as saudades ou a vontade que possa sentir,
vou ter que viver com a tua ausência, o teu silêncio, os teus olhos fechados.
Para sempre.

Não muito diferente do que foi, um dia.
Só que agora não há possibilidade nenhuma de mudança...
E hoje, choro por Ti...
Beijo

1.11.10

Desafio

Uma amiga enviou-me o seguinte desafio: 5 factos sobre mim, 10 coisas que eu gosto, 5 coisas sem as quais não vivo e 10 coisas que detesto. Aqui vai:

* 5 factos sobre mim:
- Emociono-me mais facilmente com animais do que com pessoas
- Tirei o curso de Psicologia
- Sou teimosa
- Gosto de começar projectos novos (que nem sempre termino!)
- Sempre desejei ser mais alta

* 10 coisas que eu gosto:
- Viajar
- Fotografia
- Andar a cavalo
- Ler
- Humor negro
- Animais
- Pessoas verdadeiras
- Chocolate
- Coca-Cola
- de Ti ;)

* Não vivo sem:
- minha Família e Amigos
- meus Cães
- meus Sonhos
- Música
- Aventura/ adrenalina/ experiências novas

* 10 coisas que detesto:
- hipocrisia
- violência contra animais
- traição
- egoísmo
- falta de espaço/ liberdade
- ser colocada no centro das atenções
- mentiras/ rodeios
- materialismo/ superficialidades/ vaidades
- pessoas que "falam" de assuntos sérios por sms
- o facto de o tempo voar, cada vez mais depressa

Pensamentos alheios #3

"So many people live within unhappy circumstances and yet will not take the initiative to change their situation because they are conditioned to a life of security, conformity, and conservatism, all of which may appear to give one peace of mind, but in reality nothing is more dangerous to the adventurous spirit within a man than a secure future. The very basic core of a man's living spirit is his passion for adventure. The joy of life comes from our encounters with new experiences, and hence there is no greater joy than to have an endlessly changing horizon, for each day to have a new and different sun."

Chris McCandless