27.9.09

Acordar assim...

Hoje de manhã a minha vizinha fez uma piada ao ver-me pendurada na janela do meu quarto, ainda de pijama e de máquina fotográfica nas mãos. Para ela deve ter sido uma visão um pouco cómica, mas a visão que eu tive ao olhar lá para fora quando acordei foi quase mágica e impossível de deixar escapar.

Quando era mais nova gostava de dormir muito. Quanto mais melhor! Levantar-me da cama ao meio-dia era algo que acontecia regularmente, e muitas vezes deixava as coisas importantes que tinha para fazer para a noite. Fosse estudar para um exame (o que normalmente só acontecia de véspera!), fazer trabalhos de grupo com colegas, ír ao cinema ou saír para o Bairro Alto acontecia sempre depois da meia-noite.
Hoje em dia, mesmo que quisesse dormir até ao início da tarde não consigo. Mas não me queixo, porque não é por insónia! Não consigo porque ao abrir os olhos de manhã sinto uma vontade enorme de acordar para o mundo, de olhar lá para fora e de começar o dia com uma vitalidade que dantes só tinha à noite!

É mais uma diferença entre ter-se 18 ou 33 anos, mas ainda bem! Se eu dormisse até ao meio-dia perdia este espectáculo de cores e formas que o céu do campo holandês me dá todas as manhãs!
(photos by PiXie)
Bom dia!



Tens uma pastilha elástica?

Hoje passámos a tarde em Alkmaar, uma cidade de que gosto muito aqui no norte da Holanda, não muito longe de onde vivo. Andávamos tranquilamente pelas ruelas movimentadas a apreciar o ritmo de um sábado à tarde, onde as pessoas se lembram de invadir lojas à procura de coisas que não precisam. Soa a um pesadelo, admito, pelo menos para mim que sou daquelas pessoas que detestam andar em lojas e quando preciso de alguma coisa vou directa ao assunto e saio dali o mais rápido possível! Mas ontém até soube bem. Estava um dia de começo de outono óptimo, de sol e temperatura agradável. O ambiente de Alkmaar é muito simpático (gezellig!) e consegui passear naquele movimento todo de mãos dadas com o Jules sem me sentir agitada nem apanhar nenhuma dor de cabeça, o que qualquer um que me conheça sabe que é raro (a falta de agitação num ambiente destes e as mãozinhas dadas!). Resolvemos ír beber um chá e comer uns scones numa esplanada perto da rua principal de lojas, para a seguir darmos uma vista de olhos naquela lojinha de livros por onde tínhamos passado uns momentos antes, muito acolhedora e convidativa, com estantes de madeira antigas, prateleiras cheias de lombadas misteriosas e livros espalhados pelo chão e amontoados até ao tecto! Um pouco desarrumada, é verdade, mas com o feeling ideal de se estar não numa loja, mas mais na sala de estar de um coleccionador de livros. Perfeita!
Foi a caminho da esplanada onde íamos lanchar que passámos por uma rua muito estreitinha, de paredes de tijolo antigas, e cheia de cores e relevos. Olhei bem à minha volta e a minha reacção foi de espanto! Esta rua chama-se "kauwgomsteeg" (a rua da pastilha elástica) e as paredes estão cobertas de pastilhas elásticas - brancas, azuis, cor de rosa, vermelhas, verdes, pequeninas tipo chiclet ou monstruosas tipo gorila. Uma visão estranha e ao mesmo tempo fascinante!

(photo by PiXie)
Embora ninguém me saiba dizer como esta rua começou, o porquê, ou quem terá sido o primeiro maluco a começar esta bela tradição, a verdade é que esta rua é vista como uma obra de arte feita por todos ao longo dos anos, e como muitos dizem "é melhor do que atirar as pastilhas elásticas para o chão!" (concordo, não há nada mais irritante do que um belo passeio pela cidade ser interrompido com uma cena de pastilha elástica colada à sola do sapato! Só o cócó de cão é que bate essa mesmo!).



(photo by PiXie)
Por isso, se um dia tiverem por estes lados e resolverem visitar Alkmaar (o que eu aconselho), não se esqueçam de visitar esta ruela, e se ao passearem pela cidade tiverem que deitar fora a pastilha elástica que têm na boca e já perdeu o gosto, façam-no na "kauwgomsteeg" em estilo, deixando um balãozinho cor de rosa num espacinho livre de parede, como eu fiz hoje.



(photo by J.Otto)



25.9.09

Diferenças culturais (RIP)

Secalhar este não é um assunto apropriado para começar o dia, nem para terminar, mas como durante a tarde tenho outras coisas para fazer e estava a pensar nisto (não sei porquê), aqui vai.
Um funeral. Ocasião triste em toda a parte do mundo. Dia em que um grupo de pessoas -amigos e familiares, se juntam à mesma hora e no mesmo local em homenagem a alguém que se perdeu. Sempre cedo demais, sempre uma perda irreversível.
Quando vim viver para a Holanda dei por mim a pensar mais na morte de pessoas queridas do que alguma vez tinha feito antes. Não por morbidez, mas pelo simples facto de estar longe e de o medo de perder quem se ama se tornar maior ainda devido a essa distância. Infelizmente, tive que me meter num avião e regressar por uns dias a Portugal para atender a alguns funerais. Nunca é algo que se queira fazer, mas nunca é algo que se queira perder também. Estando aqui a viver há quase 9 anos, também passei por alguns "funerais holandeses". O primeiro foi uma mistura de emoções muito estranha - estava num funeral de um amigo, o que por si é arrasador, e passei o tempo todo a sofrer um choque cultural gigante. Nunca tinha visto nada assim. Música, slides de fotografias de momentos que marcaram a vida daquela pessoa, palavras de amigos e familiares, choros mas também risos ao relembrar momentos da sua vida, e depois da cerimónia um encontro de todos num café local onde foram servidas bebidas e petiscos. Com estas bebidas dispertaram ainda mais memórias e histórias bonitas foram contadas. Tudo com gosto, com tacto. Uma verdadeira homenagem à vida que aquele amigo teve, ao contrário de um silêncio triste que no fundo não passa de um grande desperdício de tempo.
Nunca fui a muitos funerais, mas aqueles a que tinha ído (enquanto vivi em Portugal) eram todos iguais. Velório: um encontro entre familiares e amigos numa sala mórbida de uma Igreja, cadeirinhas colocadas em volta de um caixão coberto de flores e com uma fotografia do falecido em cima, lágrimas, olhos postos no chão e aquele silêncio capaz de tirar o ar a qualquer um. Funeral: uma marcha de luto atrás do caixão, um andar em silêncio a caminho de uma cova. Ai de quem fale ou sorrie, isso não fica bem! Um padre velho e caquético a dizer palavras em honra daquela pessoa que ele nunca conheceu, um hipócrita a tentar consolar todos presentes usando a velha frase : "Deus assim quis" e a contar histórias que não interessam a ninguém sobre o que a bíblia ensina no assunto vida e morte. Depois de toda esta tristeza, lá se deixa o caixão descer à terra e finalmente podem todos ír para casa. Beijos e abraços de despedida ao portão do cemitério e lá avançam todos para os respectivos automóveis para saír dali o mais depressa possível. É normal, ninguém gosta de funerais. Ninguém se sente bem numa ocasião daquelas. Mas o que as pessoas se parecem esquecer é que não se está ali por nós próprios. Está-se presente num funeral de alguém que se ama para recordar, honrar e se despedir de uma forma digna daquela pessoa. Foi isso que sempre senti estar de errado com funerais, para além do facto de serem funerais, mas esses são inevitáveis e temos que fazer o melhor das situações.
O meu primeiro funeral aqui na Holanda foi um choque, no sentido de que nunca tinha visto nada igual nem mesmo parecido, mas se há pessoas que compreendem o significado das palavras "homenagem à vida" que alguém teve, são os holandeses.
Quando morrer quero voltar para Portugal, mas deixem os padres de lado e recordem-me com sorrisos. Não faz mal sorrir ou conversar num funeral, com respeito e sentimento. É bem pior ter medo de dizer algo e acabar-se à porta do cemitério a falar do tempo ou de futebol.

24.9.09

Planeta Tokyo

Embora já tenha viajado bastante, o mundo é tão imenso que há sempre lugares a chamarem-me para uma nova paragem e aventura. Estou sempre a descobrir um interesse e uma curiosidade gigante por lugares desconhecidos, sítios distantes e misteriosos. Um lugar onde gostava imenso de ír é ao Japão.
Deve ser um mundo único, diferente de tudo o que sei, de tudo o que já vi e de todas as coisas que conheço. Quando vi o filme "Lost in Translation" senti-me quase lá. O silêncio que se ouve por falta de compreensão, os olhares das pessoas que muito raramente se cruzam, os cheiros de comidas estranhas que para tantos pode ser assustador, são apenas alguns pequenos aspectos desta cultura que me transmitem uma sensação de paz enorme, uma ideia de estar mais próxima de mim mesma... mais afastada de tudo o resto e num processo de aprendizagem, seja ele qual for!Para algo completamente novo, diferente, alucinante e inesquecível, acredito ser Tóquio o destino certo. Mais surrealista não existe.
Quando vejo imagens desta cidade coberta em luzes de neons, os formigueiros de pessoas que se movem em tantas direcções, a forma como tudo ali vive de uma maneira tão intensa, as roupas e os cabelos coloridos, os sorrisos tímidos das pessoas, a forma como as regras de etiqueta são prezadas, os arranjos artísticos feitos de flores ou de sushi, as lojas de gadgets, sinto-me tão fascinada que perco a capacidade de pensar, entrando muito depressa num mundo de sonho e fantasia.

Que mais podia desejar do que uma viagem assim, que me daria muito mais do que umas férias, mas uma experiência de vida, um ensinamento sobre uma cultura tão rica e sobre um mundo tão diferente do meu. Que forma melhor de me deixar surpreender? De me afastar de tudo o resto e de descobrir o que aquele lugar tem para me dar - sobre ele mesmo e sobre mim. Acredito que quanto mais nos afastamos do que conhecemos, do que tomamos como garantido, mais próximo de nós chegamos.
Enquanto a tecnologia ainda não me permite entrar numa nave espacial e explorar o espaço, ír a Tóquio é o mais parecido que encontro com uma viagem a outro planeta! Não sei para quando esta viagem será, mas será. Disso eu sei!
E até lá vou-me deixando perder em imagens, cores, sons, formas e todos os detalhes tão peculiares desta cultura tão diferente da minha...


またいつかね (mata itsuka ne)









23.9.09

Comédia no consultório médico

(Não, não é uma anedota. Isto aconteceu mesmo. Chamemos-lhe uma anedota da vida real!)
A minha irmã sempre teve uma fobia incontrolável de agulhas. Para levar vacinas ou tirar sangue, foi sempre um drama! Tonturas, tensão arterial baixa, desfalecimentos... só vos digo que nunca a vi em nenhuma destas situações de cabeça fria (nem de cabeça levantada, se ela não se deitar a tempo cai redonda no chão!). Ontém ao falar com ela ao telefone, também eu caí no chão, mas de riso! Ela foi com os 2 filhos, os meus sobrinhos de 5 e 3 anos, levar a vacina para a gripe. Como os miúdos estavam nervosos e com muito medo, ela achou por bem acalmá-los dizendo, com o carinho e sorriso tranquilizantes que qualquer mãe usaria na mesma situação : "A mãe leva primeiro, sim? E podem ver que não custa nada!". Depois de ter passado por duas gravidezes e partos, ela própria acreditou no que disse. Claro que o que se passou a seguir foi tipo cena saída directamente de um filme de comédia! Mal levou a "pica" no braço, começou a sentir-me enjoada e com tonturas, tendo que pedir ao médico para se deitar imediatamente para evitar desmaiar. Estava mais branca do que farinha e com lágrimas nos olhos. Olhem que bom exemplo, "vejam como a mãe se porta bem, isto não custa nada!" Ahahah! Traumatizados e provavelmente com medo de agulhas para o resto da vida, os meus sobrinhos desataram a berrar, de pânico por verem a mãe naquele estado, e na antecipação da vacina que íam levar a qualquer momento. A minha irmã teve que ajudar a enfermeira a segurar no meu sobrinho mais novo, que com uma força inacreditável para uma criança de 3 anos de idade, tentou de tudo para não levar a "pica"! O mais velho foi mais corajoso, mas mesmo assim chorou tanto que 1 hora mais tarde ainda estava com os olhos inchados!
Ao fim do dia a minha mãe ligou-lhes e perguntou com interesse e curiosidade de avó, como tinha sido a ída às vacinas. Ao que os meus sobrinhos responderam: "Levámos a "pica" avó... correu bem... a mãe é que se portou mal."
Ahahahah! Genial.

22.9.09

O meu quarto

(photo by V., 1998)
Quando penso no meu quarto penso no conforto e na privacidade que ele sempre me ofereceu. Um espaço muito meu onde sempre guardei coisinhas especiais para mim - bilhetes de ídas a concertos ou de cinema guardados numa caixinha de cartão, cartas escritas por amigos e bilhetes trocados em salas de aula, fotografias de momentos divertidos e inesquecíveis, cd's, livros, diários antigos que ainda cheiram bem, souvenirs que me lembram viagens a destinos distantes, posters de filmes e quadros enigmáticos... quando penso no meu quarto sinto saudades de me encontrar naquele espaço só meu, onde as coisas feias do mundo não entram. Foi este o quarto onde cresci, em casa dos meus pais, e onde passei tantos momentos maravilhosos com a minha música e os meus livros, com a minha escrita e o meu silêncio. Agora que cresci, que tenho a minha casa e que divido o meu quarto com outra pessoa, ele deixou de ser o meu espaço para ser o "nosso" espaço. Os meus livros partilham agora prateleiras com livros holandeses, as fotografias passaram a ser de nós dois e não de noitadas com amigos no Bairro Alto, a escolha musical é mais selectiva já que não são todas as pessoas que acordam bem-dispostas ao som da minha música, a televisão é bem maior do que eu desejaria para o meu quarto, aquelas meias deixadas pelo chão aos pés da cama também não são minhas e queimar incenso é parte do passado (eu gosto, mas há quem fique com dores de cabeça).
Não há nada mais especial do que partilhar o quarto com a pessoa que se ama, mas que se perde algo de precioso é um facto! A verdade é que agora que somos "nós" e não apenas eu, o quarto deixou de ser o meu mundo para passar a ser uma extensão da nossa casa.
Espero sinceramente que seja assim para sempre, e não há mais ninguém com quem eu quisesse partilhar mais o meu quarto do que contigo, mas deixa-me sentir saudades. Querer recordar o passado não significa estar descontente, com o presente (até rima!).

19.9.09

Haruki Murakami 村上春樹

Para quem não sabe quem este senhor é, para quem nunca tenha ouvido falar nele ou para quem já ouviu este nome mas ignorou prestar atenção aos seus livros, aqui vai um conselho: leiam!
Amante de literatura, do surrealismo e da música jazz, Murakami tornou-se sem dúvida num dos meus escritores favoritos. Consigo lê-lo vezes sem conta sem nunca perder o interesse e o fascínio que senti da primeira vez. Os seus livros transportam-me para um mundo distante, impensável, coberto de mitos e sonhos!

Também quero!!!

17.9.09

O Homem estátua

(photo by ?)

Lembro-me de ter uns 7 anos de idade e de passear com os meus pais e irmã pela Baixa de Lisboa, numa manhã de sábado em que cumpríamos o ritual de, juntos, tomarmos o pequeno-almoço na pastelaria Nicola, fazermos as comprinhas no Jerónimo Martins, brincarmos com instrumentos de música nas lojas Valentim de Carvalho e de passearmos tranquilos por aquela zona linda da cidade. Andávamos os 4 juntos e ríamos, conversávamos, os meus pais contavam histórias, eu e a minha irmã discutíamos por uma coisinha de nada para 2 minutos depois andarmos de mãos dadas esquecidas do que tinha causado aquela briguinha sem importância nenhuma, passávamos horas em lojas de livros e de música e nunca nos cansávamos!
Não guardo muitas recordações da minha infância. Não sei porquê, mas até aos meus 9 ou 10 anos é tudo muito vago. Mas lembro-me de algumas coisas, ou pelo menos da forma como elas me faziam sentir na altura - feliz e segura. Uma delas eram estes passeios pela cidade com a minha família, aos sábados de manhã. Conhecem aquele cheiro da cidade, numa manhã de sol em Outubro? Esse mesmo. Consigo sentir esse cheiro só de me lembrar daqueles passeios!
Foi num desses sábados, ao passear com os meus pais e irmã na Baixa de Lisboa que vi um homem-estátua pela primeira vez. Enfiado num fato de linho de côr branca, com a cara toda pintada de branco, sapatilhas de ballet brancas e um lenço bastante longo e feminino na cabeça (branco!). Deu-me vontade de rir, vontade de me deixar ficar em frente a ele e observá-lo durante horas seguidas e ao mesmo tempo (e este foi o sentimento mais dominante) senti dificuldade em olhá-lo, como se o facto de eu me deixar ali pasmada a olhar para ele fosse falta de educação, como se isso podesse causar-lhe algum desconforto ou vergonha... achei que ele podia sentir-se envergonhado se eu o ficasse a olhar durante muito tempo... mesmo 10 segundos já seria tempo a mais, achei! Um homem-estátua é algo que não se fica a observar, é algo que se vê. De relance, enquanto se anda pela rua e se lhe passa ao lado. Foi isto que pensei e senti naquela altura, e foi nesse momento que percebi que o homem-estátua me transmitia alguma pena... secalhar nem era necessário eu sentir-me assim em relação a ele, quero dizer, quem não gosta mesmo de estar no centro das atenções, não se vai vestir daquela maneira e pôr-se em cima de um banquinho de cozinha, horas a fio sem mexer um músculo, no meio de uma rua movimentada de Lisboa! Pois não? Mas receber atenção também não pode ser o único motivo atrás da razão que leva alguém a fazer isso. Quem gosta mesmo de atenção gosta de mostrar a cara também. O homem-estátua é anónimo. Respeito no entanto o facto de um homem-estátua ser discreto, não é como os palhaços do circo que nos sufocam com actos ridículos para chamar a atenção. Esses sim, são tristes e dão-me vontade de rir. No pior sentido possível!
Há uns meses atrás estive em Lisboa e fui saír com uns amigos. Nessa noite andamos por sítios onde andei nos tais sábados de manhã com a família. E nessa noite vi um homem-estátua. Numa rua pouco iluminada e deserta àquela hora da noite, não olhei bem para ele, vi-o só de relance, como fazemos quando já não se tem 7 anos de idade. Mas fiquei a pensar nele enquanto descíamos pela rua abaixo, e mais uma vez perguntei-me porque é que alguém faz aquilo. Não sei mesmo. Admiro a dedicação e esforço, tanto físico como mental que algo do género requer, mas este admirar não é suficiente para deixar de me perguntar o porquê. E também nunca me lembrei de o perguntar a um homem-estátua, uma vez que não se é suposto falar com um homem-estátua. Eu pelo menos não os acho muito convidativos a uma conversa. E mesmo que o fossem, provavelmente eu nunca o perguntaria. Eu também não sou muito convidativa a uma conversa com estranhos. E a verdade é que nem me interessa muito. É mais curiosidade no momento do que interesse.
Mas mais do que talvez perguntar porque é que fazem aquilo, o que eu gostava mesmo de fazer muitas vezes é de distraí-los, fazê-los rir, estragar-lhes o acto, provocar-lhe uma reacção, fazê-los de suar de nervos ao tentarem não se mexer, fazê-los chorar! Não, não sou sádica. A verdade é que nunca o fiz (ainda, pelo menos)... tenho é uma imaginação fértil e isso até nos valeu a todos umas boas risadas naquela noite!
Só o homem-estátua é que não se ri. E mesmo aqueles que o fazem, na maior parte dos casos não se riem de verdade, é apenas um efeito criado por maquilhagem. Os poucos que mostram algo parecido com um sorriso, fazem-no com o olhar e são esses que me fazem perguntar no que é que pensam enquanto olham para as pessoas que se movimentam de um lado para o outro nas ruas. Ás vezes tenho a sensação de que pensam algo como "vocês nem sabem o que perdem", como quem tem a sabedoria de dois aspectos da vida com ritmos diferentes e opostos, enquanto todos nós só sabemos como é andar de um lado para o outro a ritmos alucinantes. Até entendo que pensem e sintam isso, se fôr esse o caso, mas eu prefiro outras formas de encontrar a minha calma. Quando leio um bom livro, vejo um filme interessante, visito o blog de uma amiga minha que me fascina cada vez mais pela forma como olha para as coisas e as fotos que faz, converso com o meu melhor amigo ao telefone durante horas, revejo fotos de férias ou oiço música que goste consigo também afastar-me do mundo e das coisas, a um ponto em que me sinto distante de tudo. Nunca o conseguiria fazer no meio de uma rua, vestida como quem vai para um baile de máscaras, com a cara pintada e a convidar olhares. Tenho a certeza de que sentiria despida, nua, desprotegida. Secalhar era o sentir-me assim que me permitiria ficar ali aterrorizada e "congelada", horas a fio sem mexer um músculo!

16.9.09

(photo by ?)
Estava a ver um documentário sobre empresas que procuram a ajuda de psicólogos para melhor obterem do grupo a que se dirigem o resultado desejado. Por exemplo, sabiam que há lojas de moda em que no interior dos provadores de roupa não são colocados espelhos de propósito? O objectivo é conseguir fazer o cliente saír do provador à procura de um espelho para ver se o casaco lhe veste bem ou se aquelas calças lhe fazem o rabo parecer gordo, e ser imediatamente abordado por uma empregada/ vendedora. Está tudo pensado! Eu não me importo que certas coisas estejam previamente pensadas com um certo objectivo, o que me incomoda muitas vezes é que funciona. Não era bem mais interessante se uma situação destas corresse de uma forma inesperada, depois de tanto esforço da empresa e de um grupo de psicólogos chatos se terem dedicado a algo parecido? Quem é que precisa de espelhos? Estas calças são confortáveis, as mangas deste casaco não me parecem longas demais...
Confio no meu feeling e não me vou olhar no espelho, até porque depois de o fazer numa loja nunca mais o faço - ou olhamos para uma imagem nossa reflectida num espelho a todos os minutos do dia? Eu não pelo menos! Se me sentir bem, parto do princípio que tou com boa aparência, mas mesmo assim sei que não vou agradar a todos, não tento nem preciso - quero é agradar-me a mim mesma sentindo-me okay!
Até na porcaria do McDonnald's há o dedinho de psicólogos com o objectivo de fazer com que os clientes comprem a comidinha que querem bem depressa e que abandonem o "restaurante" o mais depressa possível. Para se obter este resultado, foi colocada de propósito em restaurantes McDonnald's uma luz feia e monótona, cadeiras com as costas viradas para a porta e toda uma atmosfera de desconforto (embora à primeira vista possa parecer o contrário). Acho tão estranho, que uma empresa contracte psicólogos que se encarregam de garantir que os clientes dessa mesma empresa passem um mau bocado... e que essa empresa possa crescer até se tornar um dos "restaurantes" fast food com mais sucesso no mundo. O crime compensa não haja dúvida. E é esse mesmo o problema!
Eu sou uma pessimista. Mas não sou uma pessimista radical, isso garanto. Se há pessoas que se sentem em certas situações entre a espada e a parede por exemplo, eu encaro situações idênticas de uma forma mais relaxada, do género: "Ao menos tenho uma parede para me encostar!" A realidade é sempre tão subjectiva, depende mesmo da forma como olhamos para as coisas.
A sério, olhem em volta - um optimista nos dias que correm não é mais do que um pessimista mal informado! Pessoas que dizem não fazer mal a uma mosca, são apenas fracas e lentas demais para apanhar uma.
Sinceramente, acho que nos dias que correm temos sorte se soubermos quem somos e o que queremos. E se há jogos que não se querem jogar, inventamos outros. Ninguém devia decidir por mim se eu jogo às cartas ou se eu jogo bowling. Jogo o que quero, quando quero, como quero e se não me apetecer ler as "regras do jogo" antes, então não leio. É um jogo e no meu entender sou eu que ganho ou que perco, por isso fuck off!
Embora já saiba bastante sobre as coisas que me rodeam, ainda dou por mim pasmada ao ver a facilidade com que tantas pessoas se deixam levar por este tipo de manipulação comercial, que as faz consumir que nem doidas. Promoções em supermercados dizem oferecer um producto grátis na compra de outros dois produtos quaisquer; se fosse mesmo grátis não havia qualquer tipo de obrigação! Embalagens coloridas de doces, rebuçados, gomas e chocolates são colocadas estratégicamente ao lado da caixa, para enquanto se espera a vez deixar-se seduzir por tanto açúcar acabando por se comprar uns docinhos que inicialmente nem estavam no plano comprar ("não faz mal, começo a dieta ámanhã", pensam com cara de culpa). Eu sou prática, vou ao supermercado com uma lista na mão (para não me esquecer de nada), pego no que preciso, dirijo-me à caixa, pago e saio muito depressa. As luzes ou a música que usam para me tentarem fazer passar muito tempo ali dentro não funcionam comigo. É assim que compro tudo o que preciso - sei o que quero, procuro, encontro, pago e ponho-me a andar.
Há lugares mais interessantes para mim do que uma loja. Tirando "Barnes & Noble" em New York claro, onde qualquer amante de livros se perde entre páginas de romances, crónicas, livros de arte e música, livros de fotografia, viagens, povos e culturas, espojado em sofás confortáveis a beber café starbucks. Se eu quiser sentar-me ali durante 24 horas a devorar livros, cafeína e donuts sou bem-vinda! O que é que eu podia querer mais?
(Os psicólogos do Barnes & Noble é que são espertos, funcionou comigo!)

15.9.09

(photo by ?)

Sempre que vou a casa de alguém pela primeira vez reparo, e acho que mesmo que tentasse não o fazer repararia na mesma, em que tipo de coisas é que elas lêm. Muitas vezes surpreendo-me não pelo que lêm, mas pelo facto de não lerem - não há livros, jornais, revistas, nada. Outras vezes dá-me vontade de rir quando os únicos livros que vejo têm lombadas coloridas e estão colocados numa prateleira perto do fogão. E tantas outras vezes, seja em casa de pessoas que não lêm nada ou de pessoas que só lêm as notícias sensacionais nos jornais baratos (do género: "A Rainha Beatrix visitou, ontém de manhã, uma loja de calçado em Amsterdam" - a sério?!!??! e ninguém me avisou a tempo?) dou por mim a sentir-
-me indignada com a quantidade industrial de revistas... bem, detesto a palavra, mas aqui chamam-nas de revistas femininas (ui, só o nome dá-me uma ligeira dor de cabeça). Revistas tipo Caras, Cosmo, Olá!. Revistas Femininas diz tudo, não diz?
Ao que parece as revistas femininas dizem tudo, sim! Dizem tudo o que é necessário saber para uma vida com grande sucesso profissional, amizades eternas, vida social animada, filhos e marido felizes, uma casa de sonho e uma vida sexual saudável (principlamente quando as leitoras já passam dos 60 e lhes é prometido e ensinado, normalmente através de 10 fantásticas dicas como ter uma vida sexual de uma mulher de 30!). Já dei por mim em casa de pessoas que conheço a sentir-me pasmada pelo facto de terem a mesa da sala cheia destas revistas... tipo sala de espera. Não há nenhuma sala de espera que não tenha uma mesa colocada no centro de um círculo de cadeiras incómodas cheia de revistas destas. Seja no dentista, no consultório médico, num balcão de serviços públicos, no veterinário ou (a minha preferida) no ginecologista, lá está a mesa cheia de material interessante para se ler enquanto se espera por uma consulta para a qual nunca se tem a mínima paciência, como quem está de castigo. Uma sala de espera só seria interessante, no verdadeiro sentido da palavra, num filme do Lynch. Ou se tivéssemos na companhia de uma daquelas amigas que também gosta de se rir de situações incrivelmente chatas, mas essas nunca nos lembramos de convidar para uma ída ao médico.
E o que é que os homens que também enfrentam uns 20 minutos (com sorte) numa sala de espera têm para ler? Vejamos... revistas com motas, automóveis rápidos e gajas boas em anúncios a cerveja. Ainda bem, os desgraçados, imaginem lá um homem com uma "revista feminina" nas mãos... seria o mesmo que eu a tentar ler um texto em árabe! Á primeira vista parece interessante e bonito, mas está tudo em código e não se percebe nada. Para ser sincera, dêem-me a revista com os carros e as gajas boas, pelo menos posso folheá-las sem que nenhuma lição para a minha felicidade me seja impingida. E já agora, eu não preciso de ler o meu horóscopo para saber como a minha semana está a correr, basta olhar-me em volta - estou numa sala de espera a passar uma séca enorme e este textozinho diz-me que o signo de escorpião terá uma semana rica em novas aventuras e desafios. Sim, que aventura excitante está a ser esta espera sem fim!
Enquanto espero (e que mais há para fazer numa sala de espera?) não consigo evitar fazer um scan muito rápido do ambiente. Já aconteceu, confesso, não havendo nada que me possa entreter esconder-me dentro de uma destas revistas. Como são informativas! Estão lá todas as dicas em como alcançar tudo o que se deseja. O leitor vê-se confrontado com um teste constituído por um grupo de perguntas, para as quais tem 5 diferentes possibilidades de resposta. Depois de fazer o teste, é só ver qual é o resultado! Tão bom, imaginem lá se estas coisas não existissem, como é que poderíamos saber se estamos felizes com a nossa vida amorosa/ profissional/ sexual!? Estes testes dão ao leitor, na maioria das vezes, o resultado que ele espera e quer ouvir, mas quando a regra falha não faz mal! Lá vem um artigo muito interessante na página imediatamente a seguir em como modificar e melhorar essas mesmas áreas da vida. Fantástico! Revistas femininas... quem leu uma, leu todas. E mesmo assim, há quem as compre diáriamente.
No fim-de-semana passado fui ter com uma amiga minha a Hoorn para um cafézinho, e a caminho da paragem de autocarro para fazermos o regresso a casa ela sai-se com esta: "Tenho que parar no quiosque para comprar a Margriet" (uma das revistas mais vendidas na Holanda e uma das piores coisas que já vi na vida!), "parece" - continou, "que vem lá um artigo esta semana sobre carreira e filhos que é interesante!" Precisavam de ver o entusiasmo dela. E precisavam de ver a minha cara. (Detalhe curioso: ela não trabalha nem tem filhos, mas é sempre bom aprender algumas coisinhas novas para se poder formar uma crítica forte em relação à vida dos outros).
Quem não sabe a quantas anda não vai encontrar o que precisa numa revista!
O que estas revistas deviam receitar em vez de conselhos baratos, lições de vida inúteis e prozac, devia ser para não se acreditar em tudo o que se lê, ouve e se diz. Para se duvidar mesmo do que se pensa, pois os nossos instintos estão tantas vezes errados. É melhor nem sempre nos levarmos tão a sério, é quase arrogante fazê-lo e a vida sem uma boa dose de humor não tem mesmo piada nenhuma. Fazer coisas novas e diferentes todos os dias, mesmo quando o horóscopo nos diz para sermos cautelosos esta semana, aprender a rir-se de si mesmo, dançar ao som de uma música que se gosta quando mais ninguém está a ver, divertir--se com um grupo de amigos, olhar para o mundo com uma mente aberta e explorar o nosso mundo interior, ser verdadeiro a nós mesmos, viver sem medos nem reservas.
Mas uma revista assim não venderia tão bem - as pessoas gostam que lhes seja dito o que precisam de ouvir, mesmo que seja mentira e é isso que nunca ninguém diz nas revistas.

14.9.09

Mood Killers

(photo by ?)

Adoro Coca-Cola. É a melhor coca e a melhor cola do mundo! Qual "branca" ou UHU! Coca-Cola sim... aaaahhhh, enjoy!
Um dia destes estava sentada numa esplanada e pedi uma Coca-Cola. O empregado trouxe-me uma lata de Pepsi, já aberta. Dois enormes erros em tão pouco tempo! Eu disse logo que não. Não quero uma Pepsi, quero uma Coca-Cola e não quero uma lata, quero uma garrafa. Fechadinha. Retire a carica à minha frente, por favor. Não é que eu tenha daquelas paranóias de que me possam meter algo na bebida, nem tenho medo de germes, mas acho que uma Coca-Cola só sabe verdadeiramente como é suposto saber quando se obedece a este ritual. Chamem-me esquisitinha, não me importo. Mas como é que eu podia beber a minha Coca-Cola se não tivesse ouvido aquele barulhinho que se ouve quando a carica salta? Gosto das coisas como gosto e se isso for ser esquisitinha, então sou esquisitinha e quero continuar a ser!
O gajo olhou para mim de lado, com um ar enjoado e ainda revirou os olhos antes de se afastar contrariado. "Palhaço", pensei. Quem não sabe a diferença entre uma Coca-Cola e uma Pepsi não devia trabalhar num café. Se eu pedir uma canja de galinha e me trouxerem uma água fervida com um caldo knorr lá diluído, não esperem que eu fique em silêncio. Se não me fizesse nenhuma diferença, sentava-me numa esplanada e dizia ao empregado de mesa para me trazer o que lhe apetecesse. Mas não, ao sentar-me numa esplanada apetece-me consumir algo e é isso que eu espero. Se eu pedisse um sumo de laranja natural e me trouxessem um sumo de laranja de pacote nem era um drama, se isso fosse previamente combinado comigo. Nem sou muito complicada, menos no que se refere à Coca-Cola. Pepsi é uma coisa cheia de açúcar e sem gás, Coca-Cola é uma bebida maravilhosa e refrescante, também cheia de açúcar felizmente, mas com muito gás e um gosto único! (Enjoy!)
Nem é o facto de alguns estabelecimentos não venderem Coca-Cola que me incomoda. O que me deixa de facto a bater mal é quando me trazem uma Pepsi e esperam que eu a beba com a mesma satisfação que beberia uma Coca-Cola. Não é o mesmo! Será que ninguém sabe disso? Se fosse o mesmo não se chamariam coisas diferentes. Pelo menos digam-me se só tiverem Pepsi, ao menos dão-me a possibilidade de escolher outra bebida qualquer. Mas neste dia até foi mais cómico, pois havia Coca-Cola e ele trouxe-me uma Pepsi na mesma. "É o mesmo...", ainda reclamou baixinho.
E depois há daqueles mood-killers, daquelas pessoas que muitas vezes se encontram na mesma esplanada, apenas a uma mesinha de distância, que gostam de iniciar uma conversazinha... ai, por favor deixem-me descansada! Será que o facto de eu me sentar aqui de livro nas mãos, cabeça baixa e óculos escuros não diz o suficiente? Um homem estava sentado na mesa ao lado da minha e, ao fim da tal vinda, ída e volta do empregado na situação da Coca-Cola versus Pepsi virou-se para mim com um piscar do olho e disse, como quem quer alertar-me para algo de muito errado que estou prestes a fazer: "Sabia que numa garrafa de Coca-Cola há o equivalente a 22 cubos de açúcar, hum?" Olha o idiota, a querer partilhar a sua sabedoria comigo! Dei-lhe logo com alguns factos sobre sobre o consumo de álcool, pois vi pelos vestígios na mesa dele que já ía na quinta cerveja e aproveitei para lhe atirar com umas dicas sobre o que a exposição excessiva da pele a solários pode causar à saúde, para não falar da aparência; o homem era cor-de-laranja! Nem sei como ele não tropeçou e caíu ao levantar-se para se ír embora, não pelas cervejas que tinha bebido, mas com a rapidez com que o fez! Ri-me contente por dentro, dei finalmente um golinho da minha Coca-Cola e levantei ligeiramente o copo no ar, como quem faz um brinde, ao pensar novamente para os meus botões "enjoy"!
Estes mood-killers... pessimistas de nascença, que não só esperam o pior mas que espalham isso de uma maneira quase malvada. É como alguém libertar um vírus de propósito, só para chatear. Esperam o pior e desejam o pior - o que é bem pior! Tenho a impressão de que certas pessoas de idade têm mais este hábito do que pessoas mais novas. Dizem ser mais sábias, mas eu acredito que não é nenhuma forma de sabedoria que tentam incutir, mas sim uma espécie de repreenda que é provavelmente o resultado de uma certa inveja, de uma dificuldade em aceitar a idade que se tem. Quando se envelhece com o tempo e não com a vida, torna-se assim... azedo. Vêem alguém satisfeito e logo se apressam a tentar desfazer a satisfação que o outro sente. Pessimistas maldosos. Crueldade, cegueira. Conheci uma pessoa assim. Sempre que se partilhava algo com ela recebia-se uma cacetada de negativismo. Se alguém lhe dissesse que estava apaixonado e feliz, junto da pessoa de quem se gosta já há 6 meses a reacção seria: "Ai que bom, fico tão contente! 6 meses hã, esperemos que dure!" ("esperemos"... plural, o que significa isso? Quem são vocês que esperam?); se alguém lhe desse a notícia de que um casal conhecido estava à espera de bébé a reacção seria : "Ai que maravilha, devem estar tão felizes depois de tanto tempo a tentar engravidar, só esperemos que corra tudo bem desta vez..." (novamente o "esperemos" e aquele tom de voz em que se sente sem margem para dúvidas de que o que esperam é exactamente o oposto, com um prazer maldoso inexplicável); ou mesmo quando alguém se sentia feliz fosse por que motivo fosse, saía-se com uma daquelas frases pobres: "Aproveita enquanto dura"- mais uma cacetada. Tinha tantas cacetadas para dar e vender que quase me dá vontade de rir a forma como morreu, no sentido que a última cacetada deu-a a si mesma.
Mood-killers... vivem para estragar o ânimo dos outros e tudo o que os rodeia não é mais do que mood-killers killers'. Porque aqueles que eu vejo como mood-killers vêem-me a mim da mesma forma, por motivos diferentes e de maneiras distintas, mas o processo até é mais ou menos o mesmo. A diferença é que eu os deixo em paz e deixo cada um viver como quer, mas poupem-me dos falsos moralismos, da pobre sabedoria e das frases feitas.
(Obrigada, mas não. Porque é que eu beberia uma Pepsi havendo Coca-Cola?!)

13.9.09


Ás vezes só me apetece gritar! Gritar tão alto até me faltar todo o ar nos pulmões, para que tudo se torne um pouco mais suportável, mais lógico, mais claro. Mas quanto mais alto eu grito, menos sentido as coisas fazem. Encarar as coisas com tanta insanidade nunca funcionou, mas possuo uma teimosia enorme que me leva a insistir nos mesmos métodos. E assim grito, sem resultado nenhum. A verdade é que mesmo não atingindo o resultado desejado, recebo sempre uma satisfação qualquer neste processo. O que faz sentido, se não fosse de alguma forma recompensada pelo meu comportamento, provavelmente já o tinha modificado há muito tempo. Sou teimosa sim, mas não sou estúpida. Depois de cada emoção vem o grito, e depois de cada grito vem uma confusão ainda maior de ideias. E de onde vem esta vontade enorme de gritar quando sinto certas coisas? Porque é que as emoções me causam tanta dor e ao mesmo tempo sinto que não sou nada sem elas? Tento compreendê-las para me compreender a mim mesma, tento organizá-las e pô-las juntas para que façam algum sentido, mas acabo por me perder ao fazê-lo.


Queria saber como se sente depois de se terminar um puzzle. Mas não sei. Nunca terminei nenhum. Mas já comecei muitos! O que sempre acontece é que perco, algures a meio, o interesse/ a motivação, seja lá o que for, e acabo por me perder nos meus sonhos de encontrar um puzzle novo em folha. E encontrá-lo nunca é difícil, a certeza que sinto a priori de que não o irei terminar é que está sempre presente, o que é um empata! Mas sou teimosa. Faço o que já fiz com a certeza de que o irei fazer novamente. Agora que penso bem, a teimosia também pode ser um sinónimo para estupidez...


(Janeiro 2008)

12.9.09

(photo by ?)

Para as pessoas que acham ter tudo sob controle e a vida na direcção certa, deixem-me que vos diga: não existe uma direcção certa. Existem diferentes direcções, caminhos, maneiras de se fazer as coisas, mas nunca se pode considerar apenas uma como sendo a certa. Algo que funcione para uns pode não dar certo para outros. Na maioria das vezes, o que funciona para muitos não funciona para mim. Nem a forma que funciona para mim me cai bem muitas vezes, quanto mais a forma dos outros! Muitas vezes sei o que tenho que fazer e não o faço. E tantas vezes quero tomar acção em algo e não sei como.
Confusão total. Penso mais depressa do que consigo agir e sinto mais depressa do que penso. Hmmm, o que fazer a tanta confusão? Nada. Apenas rir-me dela, com ela, de mim. Apenas isso. Se me deixar afectar com as minhas confusões e dúvidas aí sim é que me perco. Não há nada como encontrar uma gargalhada nas nossas fraquezas. Principalmente quando não há nada para se rir.
Não, eu não sou instável. Sou "emocionalmente flexível" o que me permite bastante. "Emocionalmente flexível"... que bonito! Não é óptimo quando encontramos palavras que justifiquem ou dêm um pouco de sentido às nossas acções?!
Estava aqui a pensar numa coisa... depois de ter visto um documentário ontém à noite sobre o trabalho dos bombeiros voluntários na Holanda (não, não havia mais nada de jeito para ver nos 280 canais televisivos e eu estava num estranho mood para um programa da treta) onde foi falado de um enorme incêndio numa fábrica já não sei do quê, vi as imagens dos bombeiros de volta ao posto, estoirados, suados e sujos depois de horas numa luta contra chamas, que me faz fazer uma vénia mental de agradecimento (sim, não é todos os dias que se encontram pessoas que se atirem a chamas para ajudar outras!). Foi mais ou menos nessa altura do documentário que o chefe do posto dos bombeiros fez uma ronda da caserna para as câmeras e falou sobre o trabalho de bombeiro. Depois mostraram aquele pilar/ poste (como é que se chama aquilo?) que se vê nos filmes, onde em situações de emergência os bombeiros deslizam em 3 segundos até lá abaixo para mais depressa se encontrarem em posição para se vestirem, entrarem nos carros e irem combater um fogo algures. "Sim, descer pelo pilar é mais rápido do que usar as escadas!" Disse o chefe de bombeiros para a câmera com um sorriso ignorante e um tom que mais soou a alguém que tivesse encontrado a cura para uma doença mortal ao fim de anos e anos de pesquisa... eu é que me pergunto: se o objectivo é chegarem lá abaixo o mais depressa possível, uma vez que qualquer segundo gasto em vão pode implicar a segurança e mesmo a vida de outros, porque é que se sentam lá em cima??
Estas coisinhas causam-me constantemente interrogações, mas felizmente duma maneira que ainda me faz rir... às vezes parece que encontro contradições na maioria das coisas que vejo e oiço, mas é inevitável! Do género: há uns tempos atrás falava na rádio uma equipe cientistas da Universidade de Medicina de Boston sobre um medicamento que iria ser lançado no mercado para 0niomania (desejo compulsivo de consumir/ gastar). Este medicamento seria dirigido a pessoas que fossem viciadas em comprar - shopaholics... pessoas que gastam fortunas em insignificâncias, que compulsivamente compram o que não precisam só por terem que comprar. Pessoas que vivem deprimidas devido a débitos altíssimos e irreversíveis nos cartões de crédito. Pessoas que querem parar e não conseguem. Pessoas que têm a casa cheia de merdinhas que não usam e um roupeiro cheio de roupas ainda por estrear e etiquetas com o preço. Pessoas que parecem ter tudo, mas que se sentem vazias e sem nada, até comprar o próximo artigo. Agora o que me deu vontade de rir nesta história foi o facto das indústrias farmacêuticas (ui!) terem um plano para lançar este medicamento no mercado, para que as pessoas que sofressem desse mesmo mal o podessem comprar!? Não são tão queridas e bondosas estas indústrias farmacêuticas, preocupadas com o bem-estar e saúde geral?
Vejo contradições em tantas coisas, mas não o consigo evitar. Ás vezes sou confusa e torno as coisas difíceis ou quase impossíveis para mim mesma, mas não sou cega e disso eu tenho a certeza! Vejo as contradições porque estão mesmo à minha frente e na maioria dos casos não lhes consigo virar as costas! E quando o faço elas estão também atrás de mim. Mesmo que nem o fizesse... tenho 2 olhinhos na nuca.
Círculos viciosos - outra expressão que eu adoro! Estão em todo o lado, em todas as coisas, em todas as pessoas - em mim, pelo menos de certeza! É um girar constante que me mantém viva e em movimento. Isto fará sentido a alguém? Não sei, talvez não. Mas faz-me sentido a mim - a maior parte das vezes, até novas dúvidas surgirem.
Às vezes canso-me, a mim mesma. Imagino aos outros! ;) Mas é assim que as coisas se movem - damos e recebemos, seja o que for. O que importa é que estes círculos nunca se fechem e mesmo que um dia o façam, que seja na altura certa, na altura que nos faz sentido a nós próprios.
Não me interessa muito saber que caminho será o meu caminho final, o momento em que todos os círculos de dúvidas e de questões se fecharão.
A mim o que importa é por onde eu ando até lá chegar.

7.9.09


"Acredito que quando morremos fazemos um retorno - ao nosso pai ou à nossa mãe. O pai é fogo, a mãe é terra. Eu sei a quem quero voltar. Eu sei então, quando morrer, se quero ser enterrado ou cremado."

(Harry Mulisch, no programa De Wereld Draait Door, numa conversa sobre a sua vida e morte)

2.9.09

(photo by Erwin Olaf)

O que esperam de mim? Sorrisos quando algo tem piada, lágrimas quando alguém morre, silêncio quando não se quer ouvir a verdade? E quem é que tem o direito de decidir por mim o que tem piada ou é triste? Ou se uma mentira é melhor do que o silêncio?
Porque teria eu que me vestir de preto para ír a um funeral? Eu visto-me de preto quando vou a uma festa! E porque teria eu que comprar um pinheiro de Natal todos os anos em Dezembro? Se eu gostasse de pinheiros plantava um no quintal e não o ridicularizava com luzinhas e bolinhas! E porque teria eu que só me portar muito bem agora que já cheguei aos 30? Se eu aprender a ser certinha antes de morrer considerem-se com sorte!
Fantoches já há muitos, vejo-os todos os dias por toda a parte, a andar em círculos e sem nunca chegar a lado nenhum.
E porque têm vocês que me fazer perguntas destas? Ainda não me conhecem? Essas caras de "pois, mas eu pensava que agora..." - agora? agora o quê? O que é que agora significa mesmo? E o que é que era antes então?
Custa-vos ver alguém a fazer tudo o que vocês não tiveram coragem para fazer? Foram apressados? Sorry, not my fault!
Esperam o que é esperado e evitam ver o inesperado. (pena...)
O que esperam de mim tem cada vez menos importância, se eu não fôr o que eu espero de mim mesma prefiro morrer. Isso é que importa de facto: as minhas expectativas de mim, as minhas visões do mundo, os meus caminhos. Se eu consigo ver os vossos com todos os momentos a cores e a preto-e-branco, porque não conseguem ver o meu?

1.9.09

Lugares...

(photo by ?)

Cada lugar tem um espírito diferente, algo que paira no ar e que nos transmite a verdadeira natureza desse lugar. Podemos chegar a um sítio novo, onde nunca tenhamos estado antes ou de que nunca se ouviu falar, e mesmo que sejam 4 horas da manhã e tudo ainda durma vê-se na escuridão, ouve-se no silêncio e sente-se com uma convicção muito forte que lugar é este onde se chegou. Familiar, simpático, tranquilo, alegre, agitado, confuso, distante, cego, mudo... lugares que não caiem bem logo de início e que sabemos muito depressa que não vamos querer ficar por muito tempo; lugares que nos recebem de braços abertos de uma forma inexplicável e mágica, e que sabemos logo que chegámos ao lugar certo na hora certa. Não podemos então esperar para ver e explorar mais e, quando chegar a hora de partir, sentimos novamente uma convicção muito forte de que iremos voltar, um dia.
Há lugares que nos abrigam, que nos acolhem e que tomam conta de nós. Há lugares que olham por nós a uma distância respeitável, ao mesmo tempo que nos seduzem com os mistérios dos seus cantinhos mais escondidos e que estimulam a nossa paixão pelo desconhecido e pela liberdade de explorar. E há lugares que se tornam mais cinzentos quando alguém novo chega... lugares sem alma, lugares frios e vazios, lugares sem sentimento, lugares sem chuva, sol ou vento. Lugares sem magia ou aventura, lugares onde até as árvores e as flores têm uma côr baça, lugares onde as pessoas não têm cara mas mesmo assim se parecem todas umas com as outras, lugares sem história onde o passado parece ter uma função meramente premeditada, levando o presente a ser vivivo sem imaginação, lugares sem qualquer expectativa de um futuro.

Lugares do nada. Lugares sem fim. Um susto!