30.8.09

New York

Há lugares que visitamos e nos fazem sentir em casa, aconchegados...... lugares onde uma familiaridade estranha paira no ar... ("acho que já estive aqui antes"...)

... construções convidativas que nos fazem sonhar com um apartamento pequenino, cheio de livros... um espaço só nosso naquele lugar...
... coisas que nos fazem rir e que não se vêem em mais lugar nenhum...... clichés que não resistimos olhar com fascínio...
... o bom gosto e o colorido de coisinhas tão simples como uma carrinha de transporte...
... o desejar ter seguido o percurso para a escola num destes...
... o querer entrar em lojinhas sem significado nenhum apenas por terem entradas destas...

... um céu coberto de arquitectura...
... um desejo enorme de querer observar a cidade daquela janela...
(photos by A.A. de Pinho)
Se há uma cidade no mundo que me deixou nada mais do que boas recordações e saudades, essa cidade é New York... a altura de voltar aproxima-se!
























21.8.09



(photo by P.T.)

É só numa casa, na nossa casa, que conseguimos estar e sentir-nos verdadeiramente sós. Num jardim há no mínimo pássaros, pessoas a passear, gatos a olhar-nos do topo de uma árvore e nunca se está só num jardim, na rua, noutro lugar qualquer...
Dentro de casa pode estar-se tão sózinho que às vezes nos perdemos em nós mesmos.

Gostava de ver onde moras.

12.8.09

(illustration by Paula J. Becker)


Fim de tarde. Mais um dia de inverno chuvoso, frio e cinzento - uma verdadeira fotografia a preto e branco, mas sem o aspecto romântico. Um dia longo e cansativo.
O que mais quero agora é chegar a casa, tomar um longo banho, vestir o meu pijama preferido e deixar-me caír para cima do sofá a ler um livro ou a ver um filme. Tranquilidade... mal posso esperar!
Já falta pouco. Saio na paragem de autocarro da minha rua e só preciso de andar uns 30 segundos até chegar à porta de casa. Já tenho as chaves na mão desde que entrei para o autocarro, ponho a chave na porta, entro e está escuro. Fiquei com a impressão de que estava sózinha e de que ía ter a casa por minha conta, o que vinha mesmo a calhar! Depois de uma semana de loucos em que nem festejei sequer o meu aniversário com a bela desculpa de ter calhado a uma 4a feira e de as 4as feiras serem um dia neutro e muito chato, nada me pareceu mais agradável do que a ideia de chegar a casa nesta 6a feira à tarde e iniciar o meu fim-de-semana fazendo absolutamente nada!

"Surprise!"

Caíram-me balões e serpentinas na cara, e sorrisos exagerados e palavras de festejo fizeram-me desejar por alguns momentos, ser cega e surda. Alguém resolveu mostrar ao mundo que eu gosto secretamente do Paulo Gonzo e começou a tocar "Heróis do Bar" ao fundo... parabéns, beijos, abraços... fuck! Agora já não podia estar cansada em paz.
Surpresa é algo que acontece de forma inesperada, do género: dizer-se a alguém por boa-educação mi casa es su casa e no domingo seguinte, de manhã bem cedinho - surpresa! Ou um grande amigo dizer-nos que encontrou o amor da vida dele, tirar uma foto da carteira para partilhar a sua felicidade e vermos que está apaixonado por uma pessoa de bigode e barbas chamada Afonso - surpresa! Ou passar uma noite com um estranho, depois de muitos wiskys e poucas palavras e 9 meses mais tarde - surpresa!
Surpresas são um susto, isso sim! Uma armadilha, como ver um rato à andar às voltas até encontrar um pedaço de queijo curado, delicioso e - surpresa! "clack"...
Surpresas são isso, e nada mais: um (des)prazer inesperado. Acordem, surpresa a sério seria eu anunciar ser uma neo-nazi.
Gosto cada vez mais dos prazeres esperados, conquistados, desejados. O prazer está em surpreender-me a mim mesma dentro das minhas expectativas e não naquele sentido "surprise!" em que se sente obrigado a sorrir por fora e em que na maioria dos casos se chora por dentro. "Não me podias ter avisado?" - "Se o tivesse feito já não seria surpresa!" - "Exactamente. E obrigadinha".
Aprendi que as coisas que caiem do céu, mesmo as boas como balões e serpentinas, caiem muitas vezes no momento errado e por isso já não sabem tão bem como era suposto.
Planear cada vez mais o que se faz ou o que se quer fazer não é, no meu entender, uma forma de fugir aos riscos e às emoções. É uma forma que encontramos (ou que eu pelo menos encontrei) de abrir portas em vez de as deixar caír em cima de mim. A previsibilidade pode soar a algo tão chato... mas gosto de saber a origem de tudo e gosto cada vez mais de situações claras e de pessoas directas. Continuo sem saber o que vai acontecer a seguir e não posso nem quero controlar tudo o que vivo. Mas não quero ser apanhada de surpresa de maneiras em que em vez de me sentir fascinada sinto-me presa e obrigada a algo.
Do género: vê-me como eu realmente sou e surpreende-me da maneira certa.

(Novembro 2006)





4.8.09

O que ficou...

... foi aquela saudadezinha que não magoa, mas que sabe bem, dá força e faz sorrir. Foram as boas recordações de momentos únicos revividos junto a amigos e família. Foi a recordação do prazer que é voltar aos lugares que nos são familiares e que sabem a casa. Foi o sentir novamente quem realmente sou, de onde venho. Foi com certeza uma enorme vontade de voltar. E só quando sinto esta vontade de regressar é que me pergunto, inevitavelmente, porque é que algum dia me vim embora?... Mas a resposta é clara para mim, a minha emoção (e a saudadezinha de que falo) é que me tentam pregar partidas! Gosto de onde estou, e um dos motivos é exactamente o facto de poder ter o prazer imenso e único de voltar. Esse prazer seria menor se lá estivesse sempre. Vivo o melhor de dois mundos, de duas vidas, de duas casas... talvez isto só seja compreensível para outros que passem ou tenham passado pelo mesmo, mas a verdade é que me sinto sortuda por isto!
Obrigada a todos que me receberam mais uma vez de braços abertos, foram umas férias inesquecíveis!
xx