25.9.09

Diferenças culturais (RIP)

Secalhar este não é um assunto apropriado para começar o dia, nem para terminar, mas como durante a tarde tenho outras coisas para fazer e estava a pensar nisto (não sei porquê), aqui vai.
Um funeral. Ocasião triste em toda a parte do mundo. Dia em que um grupo de pessoas -amigos e familiares, se juntam à mesma hora e no mesmo local em homenagem a alguém que se perdeu. Sempre cedo demais, sempre uma perda irreversível.
Quando vim viver para a Holanda dei por mim a pensar mais na morte de pessoas queridas do que alguma vez tinha feito antes. Não por morbidez, mas pelo simples facto de estar longe e de o medo de perder quem se ama se tornar maior ainda devido a essa distância. Infelizmente, tive que me meter num avião e regressar por uns dias a Portugal para atender a alguns funerais. Nunca é algo que se queira fazer, mas nunca é algo que se queira perder também. Estando aqui a viver há quase 9 anos, também passei por alguns "funerais holandeses". O primeiro foi uma mistura de emoções muito estranha - estava num funeral de um amigo, o que por si é arrasador, e passei o tempo todo a sofrer um choque cultural gigante. Nunca tinha visto nada assim. Música, slides de fotografias de momentos que marcaram a vida daquela pessoa, palavras de amigos e familiares, choros mas também risos ao relembrar momentos da sua vida, e depois da cerimónia um encontro de todos num café local onde foram servidas bebidas e petiscos. Com estas bebidas dispertaram ainda mais memórias e histórias bonitas foram contadas. Tudo com gosto, com tacto. Uma verdadeira homenagem à vida que aquele amigo teve, ao contrário de um silêncio triste que no fundo não passa de um grande desperdício de tempo.
Nunca fui a muitos funerais, mas aqueles a que tinha ído (enquanto vivi em Portugal) eram todos iguais. Velório: um encontro entre familiares e amigos numa sala mórbida de uma Igreja, cadeirinhas colocadas em volta de um caixão coberto de flores e com uma fotografia do falecido em cima, lágrimas, olhos postos no chão e aquele silêncio capaz de tirar o ar a qualquer um. Funeral: uma marcha de luto atrás do caixão, um andar em silêncio a caminho de uma cova. Ai de quem fale ou sorrie, isso não fica bem! Um padre velho e caquético a dizer palavras em honra daquela pessoa que ele nunca conheceu, um hipócrita a tentar consolar todos presentes usando a velha frase : "Deus assim quis" e a contar histórias que não interessam a ninguém sobre o que a bíblia ensina no assunto vida e morte. Depois de toda esta tristeza, lá se deixa o caixão descer à terra e finalmente podem todos ír para casa. Beijos e abraços de despedida ao portão do cemitério e lá avançam todos para os respectivos automóveis para saír dali o mais depressa possível. É normal, ninguém gosta de funerais. Ninguém se sente bem numa ocasião daquelas. Mas o que as pessoas se parecem esquecer é que não se está ali por nós próprios. Está-se presente num funeral de alguém que se ama para recordar, honrar e se despedir de uma forma digna daquela pessoa. Foi isso que sempre senti estar de errado com funerais, para além do facto de serem funerais, mas esses são inevitáveis e temos que fazer o melhor das situações.
O meu primeiro funeral aqui na Holanda foi um choque, no sentido de que nunca tinha visto nada igual nem mesmo parecido, mas se há pessoas que compreendem o significado das palavras "homenagem à vida" que alguém teve, são os holandeses.
Quando morrer quero voltar para Portugal, mas deixem os padres de lado e recordem-me com sorrisos. Não faz mal sorrir ou conversar num funeral, com respeito e sentimento. É bem pior ter medo de dizer algo e acabar-se à porta do cemitério a falar do tempo ou de futebol.

7 comentários:

  1. Não podia concordar mais contigo. Os nossos (salvo seja) funerais não deixam boas recordações, se é que tal é possível. Chegam a ser sinistros.
    Quando o meu avô morreu decidimos ler alguns textos, falar sobre ele e o padre muito jovem que celebrou a missa cantou e falou sem ser por parábolas. Foi o mais próximo que estive de um funeral pouco católico e lembro-me sempre daquele momento com tristeza, mas também com um sorriso.

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  2. Sim eu Portugal ,também se tinha o hábito de no velório se contarem episódios da vida do morto,sempre com lágrimas e riso misturados ,e sim, a familia acabava também num café de algum modo a confraternizar ,como se a dizer que aquela pessoa, deu-lhes mais um momento de aproximação familiar.
    Contudo,eu não concordo muito com essa tradição de celebrar a morte da pessoa que passa, tambem ,não com os funeráis á Portuguesa de que falas ,mas não me parece bem ,que o dia do funeral de uma pessoa,quase se assemelhe a um dia de aniversãrio...se as pessoas querem conviver porque não o fazem fora de funerais ,casamentos e batizados?

    Gosto deste blog.
    vou seguir!
    **

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  3. Patrícia, entendo o que dizes no sentido de que não deveria ser necessário ninguém fazer anos, casar ou muito menos falecer para que familiares e amigos se juntem. Na minha família não é assim felizmente. Mas já que o fazem quando alguém morre, então gosto mais da ideia de o fazerem com uma certa dignidade. Claro que é sempre uma ocasião triste e não é nenhuma festa. O convívio de que falo é apenas uma forma que possibilita às pessoas presentes recordarem e homenagearem a pessoa que faleceu.

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  4. Anónimo29.12.09

    Jesus conhecia os efeitos da morte quando esteve na Terra. Ele sentiu a dor de perder pessoas que lhe eram achegadas e tinha pleno conhecimento de que ele mesmo teria uma morte prematura. (Mateus 17:22, 23) Lázaro, amigo íntimo de Jesus, faleceu aparentemente alguns meses antes de Jesus ser executado. Esse acontecimento nos ajuda a compreender qual era o conceito de Jesus a respeito da morte.
    Pouco depois que soube da morte de Lázaro, Jesus disse: “Lázaro, nosso amigo, foi descansar, mas eu viajo para lá para o despertar do sono.” Obviamente, Jesus sabia que a morte é comparável ao sono. Ao passo que pode ser difícil para nós compreender o que é a morte, sabemos o que é o sono. Durante uma boa noite de descanso, nós não nos apercebemos da passagem do tempo e do que acontece ao nosso redor porque estamos temporariamente inconscientes. É exatamente assim que a Bíblia explica a condição dos mortos. Eclesiastes 9:5 diz: ‘Os mortos não estão cônscios de absolutamente nada.’

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  5. Obviamente, a nossa atitude para com a morte pode afetar nossa vida. Em vista das reações das pessoas diante da tragédia da morte, mas será que não devemos nem pensar na morte, concentrando-nos apenas em viver? Deve-se permitir que a ameaçadora realidade da morte estrague a nossa vida? Será que um parente enlutado precisa ficar eternamente se perguntando onde está seu ente querido?
    As Escrituras explicam claramente o que é a morte. Não revelam apenas por que morremos. Explicam também qual é a condição dos mortos e dão esperança para os nossos entes queridos falecidos. Por fim, fala de um momentoso dia em que será possível anunciar: “A morte foi tragada para sempre.” — 1 Corínt, 15:54.

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  6. Anónimo e NICE: obrigada pelos comentários, embora o aspecto que eu queria referir com o meu texto fosse o funeral em si e a diferente forma como este se faz consoante as culturas, e não a morte.

    * porque será que pessoas que estão tão certas do que pensam e acreditam citam em vez de falar, e preferem o anonimato? ;)

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  7. Em se tratando de cultura e,não de opiniões,podemos falar por exemplo da África:Na África e em outros lugares, é muito comum a crença de que, a menos que se sigam certos costumes, os espíritos ancestrais se ofenderão. Não seguir tais costumes é considerado uma ofensa grave que pode resultar em maldição ou azar na comunidade.Em certo país africano, alguns vão a ponto de comprar caixões parecidos com carros, aviões, barcos e outros objetos, apenas para exibir riqueza, grandeza e luxo. O cadáver talvez seja retirado do caixão e exposto numa cama decorada para esse fim. Se for mulher, talvez seja trajada com vestido de noiva e enfeitada com muitas jóias, contas e maquiagem.Seja qual for a origem étnica ou cultural,eu particularmente evito qualquer costume ligado à crença de que os mortos estão cônscios e que podem influenciar os vivos.Mas também não tenho nada contra a quem faz.mesmo porque devemos respeitar as diferenças culturais.

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