22.9.09

O meu quarto

(photo by V., 1998)
Quando penso no meu quarto penso no conforto e na privacidade que ele sempre me ofereceu. Um espaço muito meu onde sempre guardei coisinhas especiais para mim - bilhetes de ídas a concertos ou de cinema guardados numa caixinha de cartão, cartas escritas por amigos e bilhetes trocados em salas de aula, fotografias de momentos divertidos e inesquecíveis, cd's, livros, diários antigos que ainda cheiram bem, souvenirs que me lembram viagens a destinos distantes, posters de filmes e quadros enigmáticos... quando penso no meu quarto sinto saudades de me encontrar naquele espaço só meu, onde as coisas feias do mundo não entram. Foi este o quarto onde cresci, em casa dos meus pais, e onde passei tantos momentos maravilhosos com a minha música e os meus livros, com a minha escrita e o meu silêncio. Agora que cresci, que tenho a minha casa e que divido o meu quarto com outra pessoa, ele deixou de ser o meu espaço para ser o "nosso" espaço. Os meus livros partilham agora prateleiras com livros holandeses, as fotografias passaram a ser de nós dois e não de noitadas com amigos no Bairro Alto, a escolha musical é mais selectiva já que não são todas as pessoas que acordam bem-dispostas ao som da minha música, a televisão é bem maior do que eu desejaria para o meu quarto, aquelas meias deixadas pelo chão aos pés da cama também não são minhas e queimar incenso é parte do passado (eu gosto, mas há quem fique com dores de cabeça).
Não há nada mais especial do que partilhar o quarto com a pessoa que se ama, mas que se perde algo de precioso é um facto! A verdade é que agora que somos "nós" e não apenas eu, o quarto deixou de ser o meu mundo para passar a ser uma extensão da nossa casa.
Espero sinceramente que seja assim para sempre, e não há mais ninguém com quem eu quisesse partilhar mais o meu quarto do que contigo, mas deixa-me sentir saudades. Querer recordar o passado não significa estar descontente, com o presente (até rima!).

4 comentários:

  1. Sabes que o quarto é apenas uma metáfora para o resto das coisas que passam a nós em detrimento do Eu.
    Mas onde senti isso de verdade foi com o nascimento da Alice.
    Lembro-me de chegar da maternidade com ela ao colo e de ver na minha mesinha de cabeceira, onde antes repousavam os meus livros e tralhas, um aquecedor de biberons, uma lata de leite em pó, uma caixinha com chupetas.
    Senti que a minha identidade tinha sido usurpada sem dó, nem piedade. Mas a pouco e pouco vamos sempre arranjando novos espaços interiores e exteriores para não esquecermos de sermos NÓS de vez em quando ;)
    Conheces uma música dos K's Choice que se chama In My Room?

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  2. Ana,
    Felizmente ainda sei como encontrar espaços para ser EU e espero que nunca me esqueça de o fazer ;)
    Sim, imagino que depois de se ter filhos também se sinta isso e de certeza de uma maneira bem mais forte!
    Conheço In Your Room (não in my room) dos K's Choice, é essa a música de que falas?... Deve ser, mas enganáste-te no título (pequeno detalhe, provavelmente acto falhado! lol)

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  3. Ah Ah Raquel é claro que me enganei. Esta coisa de estar prenha retira-me anos de inteligência e memória. Acto falhado sem dúvida. Shame On Me.
    Mas eu queria que se chamasse In My Room, seria bem mais giro...

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  4. Por circunstâncias provocadas, não estou para já sintonizado a ter um espaço fixo, mas sinto falta do que tão bem descreves. Contudo, aponto no meu bloco de notas ideias do que quero ter e que me vão ocorrendo na viagem de comboio, ao ver uma montra, a ir a casa de amigos...

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