Secrets, One Republic
Acordei cedo, como costume. O sol ainda estava para nascer e o silêncio era tudo o que se ouvia. Tão bom! São manhãs como esta que me transmitem uma calma que tantas vezes esqueço com o avançar do dia, que ainda existe! Momentos de lentidão, silêncio e sem pressas.
Ontém à noite, antes de fechar os olhos e ter caído num sono profundo, pensei em algo. Numa coisa que tenho guardado (quase) só para mim mesma nestes últimos tempos e que tanto tem preenchido o meu pensamento e o meu tempo. E, momentos antes dos olhos se fecharem, foi também isso que ainda vi no escuro do quarto, enquanto me perguntei se de manhã haveria alguma claridade... e há! ;)
São poucas as pessoas com as quais partilho seja o que fôr que ande a pensar, a sentir, a questionar, seja que tipo de situação fôr que eu ainda tenha por resolver de qualquer maneira, mesmo antes de o conseguir ter feito. São poucas as pessoas com quem me sento a falar, como se tivesse numa sessão terapêutica, em que não penso no que digo, apenas deixo as ideias fluírem e, quem sabe, algo fará mais sentido. São poucas as pessoas que vêm esse lado de mim - entre a confusão, desespero, dúvidas e incertezas, e o momento em que algo de decisivo é feito.
A minha irmã é uma delas. Não consigo pensar em nada que não conseguisse falar com ela... e não consigo pensar em nada que ela não conseguisse compreender, embora as nossas diferenças sejam muitas. A verdade é que ela me conhece tão bem, que coisinhas em mim que possam parecer muito complicadas ou estranhas para muitos, ela entende logo e sabe sempre o porquê de eu ser/ pensar/ agir ou sentir assim.
A minha irmã nunca me faltou. Mesmo em alturas em que confesso ter desafiado a paciência dela e ter jogado com o nível de compreensão que ela naturalmente tem em relação às pessoas de quem gosta, ela esteve sempre do meu lado. Nem sempre como eu queria ou esperava, mas ainda bem. Ás vezes temos que deixar alguém que goste incondicionalmente de nós guiar-nos pelo caminho certo. Mesmo que na altura não o vejamos assim, às vezes temos que confiar em alguém que acredita em nós. Ela viu-o sempre na altura certa, acho que ser a irmã mais velha tem dessas coisas... saber distinguir tão bem um momento para se ser o que os outros querem de um momento para se agir como é necessário. É a irmã mais velha e a mãe que há (e sempre houve) na minha irmã.
Desde pequena que senti uma admiração enorme pela minha irmã. Ela era para mim um exemplo, uma referência e às vezes gostava tanto de tudo o que via nela que assustava! Mas a amizade de irmãs, a cumplicidade, a confiança, os segredos partilhados e guardados entre nós a sete chaves, as lágrimas e os risos trocados - tudo o que se pode imaginar a relação entre duas irmãs ser, sinto que sempre tive com ela. Nunca faltou nada. Até discussões e brigas sem importância nenhuma, que mais tarde nos viriamos a rir delas enquanto os nossos pais nos punham de castigo por termos gritado uma com a outra. Achei sempre que aquelas briguinhas de irmãs eram mais difíceis para eles do que para nós, porque passados 5 minutos já nem nos lembravamos! E os ataques de riso à hora da refeição? Isso sim, dava com os meus pais em doidos e quanto pior eles ficavam, mais nós nos ríamos! O castigo era ficarmos as duas no quarto sem ver televisão. E como cada uma tinha o seu quarto, esse sim era o verdadeiro castigo - o estarmos separadas. Então fomos criando maneiras que os nossos pais nunca se aperceberam para estarmos juntas e a partilhar, mesmo de castigo e separadas pelas paredes do quarto. Comunicávamos através de sons de pancadinhas na parede, tínhamos a nossa linguagem secreta para podermos escrever coisinhas uma à outra (qualquer adulto conseguiria ler aquilo, mas para nós era um puzzle indecifrável que tínhamos criado! Ahahahah!), e até viemos a descobrir que podíamos passar de um quarto para o outro através da varanda, sem que os nossos pais vissem! Ahahahah! Não faltava nada, mesmo.
Nem falta! Quero dizer, falta... falta o estar mais junto...
As saudades que sinto de Portugal às vezes são enormes, e com esse sentimento vem sempre o pensar em pessoas que fazem parte de mim. A primeira em quem penso é, inevitavelmente, sempre a minha irmã. É dela que mais sinto falta, estando longe. Do fazer parte do dia-a-dia dela, de vê-la viver e fazer as coisinhas dela, de estar lá para ela, de admirar de perto a forma tão única como ela ama os meus sobrinhos incondicionalmente.
Hoje acordei cheia de saudades dela... e com saudades dos meus sobrinhos, que são a parte da minha irmã que neste momento das nossas vidas mais admiro, mais me tira a fala, mais me mostra a mulher tão especial que ela é!...
22.6.10
A tua música - do momento
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Raquel, o meu comentário poderá parecer-te descabido ou despropositado... conheço a tua irmã há pouco tempo e a ti nem te conheço, apesar de ler todos os teus textos, ainda que raras vezes os comente, talvez por sentir que seria um excesso de confiança da minha parte.
ResponderEliminarMas este tenho não posso deixar de comentar pois partilho inteiramente da tua opinião. Não partilhei (ainda!) pancadinhas nas paredes nem fiquei de castigo com ela mas nestes poucos meses que a conheço já várias vezes comentei que a Inês é única e verdadeiramente especial. Uma mãe dedicada, uma amiga generosa, uma pessoa admirável, genuína, que dá de si incondicionalmente sem esperar nada em troca.
E como também toda a vida vivi longe de pessoas que me eram muito queridas, acredita que sei dar valor às tuas saudades. Sei que nada as atenua mas se serve de algum consolo tudo farei para assegurar que tanto a tua irmã como os teus sobrinhos cresçam felizes na vida que levam.
Um grande beijinho. Ana
Seja por motivos bons, ou menos bons, andas tremendamente inspirada. Continua a escrever, pois fazermos das nossas dúvidas e precalços combustível para a escrita é das melhores terapias do mundo.
ResponderEliminarSabes que somos 4 irmãs e até uma certa idade tive essa cumplicidade com a minha irmã mais velha, depois perdeu-se completamente, mas sinto muita falta de alguém assim na minha vida.
Queres pôr-me a chorar logo pela manhã??? AMEI!
ResponderEliminarPalavras para quê? Faço minhas as tuas... Beijinhos
Ana Villa de Freitas, ainda bem que deixaste o teu comentário. Gosto que o façam e és sempre bem-vinda - não só a ler, mas a deixares também palavras, se sentires vontade de o fazer!
ResponderEliminar* é bom saber que a minha irmã tem pessoas assim na vida dela, que a vêem e valorizam por tudo o que ela é! :)
Bjs xx
Ana C., conheces-me tão bem que vês logo de onde a minha inspiração do momento possa vir! ;) Mas concordo ctg: a escrita é a melhor terapia do mundo! (e não custa fortunas! ahahah!)
ResponderEliminarFico com pena de saber que tenhas perdido essa ligação que tinhas com a tua irmã mais velha... é algo insubstituível, mas quem sabe isso volta?... ;) Uma boa amiga é muitas vezes como uma irmã também - os laços de sangue nem sempre significam tudo.
Bjs grandes xx
Mana, e nem imaginas o esforço que fiz para escrever tudo isto, só para te deixar de olhos inchados! eheheh ;)
ResponderEliminar... Acordei com saudades tuas, não posso fazer nada! Depois deu-me para isto - era isto ou chorar também! :) Mas combinamos 1 coisa: chorar, só a rir mesmo! ;)
BJS GRANDES da mana + piquena xx