Forbidden Colors, Ryuichi Sakamoto
Foi num dia normal e tão igual a tantos outros que ela recebeu uma mensagem dele. Foi uma mensagem que a intrigou, claro, já que esse era o objectivo. Respondeu à mensagem, sem nada pensar ou esperar, senão com uma intenção simples e pura de mostrar apreço pelas palavras que lhe tinham sido cuidadosamente dirigidas. Todas as pessoas gostam de receber elogios, diz-se. Ela, no entanto, não sabia lidar bem com eles, a não ser se fossem dados de uma forma quase indirecta, subtil, discreta e sem aquela vaidade de ego que tantas vezes é transmitida por quem elogia outros. Há pessoas que elogiam para se sentirem melhor consigo próprias, esquecendo-se do verdadeiro significado do gesto. Mas aquele elogio, transmitido discretamente nas palavras de uma mensagem, fora diferente. De uma forma que ela não entendeu logo de imediato, de uma forma que ela ainda tenta entender hoje.Com o passar do tempo - inacreditavelmente curto, de uma mensagem passou-se a muitas conversas, a muitas partilhas, a muitas horas "juntos". Descobertas, interesses, curiosidades, risos, silêncios - alguns deliciosos, outros mais rígidos, palavras e músicas, são apenas algumas das coisas que partilharam um com o outro durante uns tempos. E parecia que quanto mais partilhavam, quanto mais sabiam um do outro, maior era a vontade de se conhecerem melhor, de se entenderem, de saber mais e mais um do outro. Inevitavelmente, maior foi ficando a vontade de se verem. De descobrir se, na presença um do outro, tudo de mágico que parecia estar a acontecer e estarem a sentir ficaria intacto...
E, num dia que pareceu ter chegado depressa demais e ter demorado muito a chegar ao mesmo tempo, encontraram-se. Numa cidade que talvez nem fosse para nenhum dos dois a primeira escolha, mas tinha sido ali que tinham dito um dia virem a conhecer-se e há planos que não se querem alterar ou interromper, quase que por medo que dê errado.
(continua)
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