Wait, The kills
Já tinha anoitecido e as luzes da cidade iluminavam a rua onde ela esperava. A chuva tinha parado há algumas horas, mas as pedras do passeio ainda estavam molhadas e frias. Estava um noite típica de Janeiro, de temperaturas baixas e nevoeiro no ar. Nunca gostara de frio, mas naquele momento, enquanto o esperava, apercebeu-se de que nem o sentia e que até estava a apreciar sentir o cheiro da chuva no ar e ver o nevoeiro a abraçar as sombras da rua.
Estava nervosa e ansiosa por aquele momento tão esperado, mas sentia-se bem disposta. Viu que ainda faltavam uns 5 minutos para a hora que tinham combinado e acendeu um cigarro. Sempre achou interessante como, em momentos de espera, um cigarro é uma óptima companhia! E foi. Enquanto fumou deixou de se sentir agitada e conseguiu não pensar em nada. Pôs todas as ansiedades, medos, dúvidas e expectativas de lado e apenas ficou presente, à espera dele - de corpo e alma.
Foram uns 4 minutos mais tarde que um carro preto de vidros escuros encostou junto ao passeio onde ela ainda fumava o cigarro. Uma porta abriu-se e saíu de dentro do carro um homem moreno, alto, de rosto sério e postura misteriosa. Dirigiu-se a ela sem dizer nada, abraçou-a e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Depois olhou-a, sorriu e disse apenas "Finalmente!", ao que ela respondeu com um beijo tímido.
"Anda, vamos saír daqui."- sugeriu ele.
Com um braço á volta dos ombros dela dirigiu-a ao carro, esperou que ela se sentasse no banco ao lado do condutor e fechou cuidadosamente a porta atrás dela. Sentou-se ao volante e ligou o carro, mas não antes de a ter olhado com um sorriso que a preencheu, mas que podia ter tido muitos significados...
Dentro do carro criou-se um silêncio absoluto que tanto a assusta, mas que ele por sabê-lo, preencheu ao ligar o rádio e escolher uma música que sabia que ela gostava.
"Adoro esta música!" - disse ela, sabendo no entanto que ele já o sabia e que a escolha não tinha sido ao acaso. Mas foi só o que conseguiu dizer. Depois recostou-se na cadeira do carro e deixou-se levar, fosse para onde fosse, ao som da música que agora lhe trazia a calma que queria ter para este momento, com os olhos postos para lá da janela do carro, nas ruas daquela cidade mágica e os pensamentos perdidos...
(Meses depois deste exacto momento, ela recordou aquela noite e o momento em que um homem que um dia conhecera, era tão especial que escolhera uma música para lhe oferecer calma...)
Não mais do que uns 15 minutos depois, ele estacionou o carro á porta de um prédio antigo, lindo de morrer, e disse-lhe "Chegámos!". De seguida apressou-se a abrir a porta para ela saír, gesto ao que ela agradeceu com um sorriso trocista. Gostava de boa educação e apreciava estes gestos, no entanto sempre com um pequeno desconforto que nunca tinha conseguido decifrar.
Enquanto ficaram ali uns curtos momentos, a olhar a fachada Art Deco do prédio à frente do qual haviam estacionado o carro, ele falou baixinho no ouvido dela. As palavras fizeram-na sorrir feliz, de orelha a orelha.
Foi nesse momento que ela sentiu, verdadeiramente pela primeira vez, que tinha feito a escolha certa.
(Meses mais tarde ela viria a recordar também esse momento, por motivos que agora - de mãos dadas com ele a admirar a fachada do prédio que ía ser a sua morada durante os próximos dias, lhe eram impossíveis sequer imaginar.)
(continua)
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