22.4.10

Uma carta ao Tempo


R.E.M., Drive
Sei que antes de terminar de escrever esta carta já tu foste embora. Largas-me com uma facilidade cruel e com uma frequência cada vez maior. Queria poder agarrar-te com as minhas mãos e usar todas as minhas forças para te manter aqui, preso, sempre por perto, só meu. Mas não consigo. Não posso. És mais forte do que eu e seria estúpida em querer começar uma batalha contra ti.
Deixas-me confusa com o facto de me tirares tanta coisa para que me dês algo de novo, levas-me nas tuas palavras mansas e lentas que me manipulam depressa e me fazem perder em ti. Perco-te sempre. Perco sempre.
O teu coração bate num tic-tac tão rápido que faz com que o meu queira parar. Sinto-me cansada deste amor-ódio que existe entre nós. Mas sem ele é quase como se eu não existisse. Preciso de ti para me sentir viva, mas tu roubas a vida que há em mim.
Desafias-me diáriamente em jogos misteriosos e cheios de suspense, jogos onde o meu raciocínio nada vale. Assustas-me na forma como vês sempre os meus bluffs e sinto-me de mãos atadas.
Fico tonta por te ver a correr em espirais à minha volta. Não te cansas? De não parar quieto, de não me deixar em sossego?... Tu cansas-me!
E no entanto continuo a querer, a desejar cada vez mais, poder ter-te só para mim e sempre por perto... como era dantes. E por isso continuo a viajar contigo e através de ti. Por isso deixo que me leves seja para onde fôr que tu vás. Vou sempre contigo.
Andas sempre atrás de mim, no entanto és mais rápido e não te consigo tocar... lembraste de quando o conseguia fazer? de quando ainda andavamos lado-a-lado? Eu já me esqueci, conta-me... preciso de ouvir, de sentir e de me lembrar de como éramos quando ainda andavamos de mãos dadas.
Sei que a guerra entre nós é uma que não consigo vencer, mas nunca hei-de deixar de te desafiar nem de te encostar à parede.

2 comentários: