Casamentos, receber ajuda financeira, fazer uma plástica ao nariz, resolver problemas sexuais, fazer uma desintoxicação de heroína em casa e a frio (não estou a gozar!) e até dar à luz, são alguns dos momentos nas vidas de tantas pessoas que são expostos de uma forma tão barata e feia que me deixa de boca aberta. Porque será que alguém se sujeita a tal exposição e o que será que os leva a querer aparecer na televisão dessa maneira? Será que as suas vidas são assim tão vazias que deixarem-se filmar durante momentos tão privados é o único consolo que têm para a solidão? Será que estes programas oferecem tanto dinheiro em troca destes momentos que é impossível dizer não? Infelizmente, tenho um feeling muito grande de que a maioria destas pessoas não recebe dinheiro nenhum, e se calhar até paga para aparecer na televisão! Ontém à noite apresentaram um novo conceito para um programa de televisão que traduzido à letra se chama: "Guerra de vizinhos", um programa que visita casas de pessoas que tenham problemas por resolver com os seus vizinhos, explora a natureza desses conflictos e, como as pessoas fazem tudo para aparecer em momentos bonitos na televisão, farão as pazes com direito a lágrimas e tudo!
Agora expliquem-me por favor, porque hoje estou um pouco lenta, porque será que estes programas de televisão continuam não só a ter quem participe neles, mas uma audiência que cresce de dia para dia e abrange todas as idades?
Ainda me lembro dos tempos em que a única forma de exposição televisiva acontecia durante reportagens de telejornais, em que se via um fulano atrás do jornalista a saltar, a passar de um lado para o outro, a esticar o pescoço, enfim, a fazer de tudo para aparecer em plano!
Assim como Portugal tem para dar ao mundo o Galo de Barcelos e a canção Abril em Portugal, os espigadotes holandeses têm para oferecer à civilização os cogumelos alucinogénicos e os espectáculos da vida real.
ResponderEliminarDespacharam para cá o Pedro Enes (versão Tuga do Pitéu Hein) e ele encarregou-se de arrebatar a Alexandra Lencastre na sua melhor fase, ao mesmo tempo que contaminava este cantinho impoluto com as ideias progressistas dos senhores que pensam televisão em gabinetes.
Estou em crer que a principal razão que leva o povo a entregar um pouco da sua intimidade a troco de uns minutos de fama e de algum dinheiro é mesmo esta que acabei de enunciar como se não fosse concluir o teorema à custa de um complemento agora redundante que assevera tal razão: uns minutos de fama, algum dinheiro, o reconhecimento que confere a existência.
Porque nos dias que correm só existe para a vida quem aparece no ecrã. Que o diga eu, que raras vezes apareço e raras vezes existo. Ou quase nunca.
Longe vão os tempos da inocência escondida, em que o mais perto que se estava do espectáculo da fama era plasmado na capa de vinis 33 rotacionísticos desse Avô de todas as gerações, cognominado de Cantigas.