11.2.09

Typical dutch II


Flores, cerveja, tamancos de madeira, drogas, moinhos e prostituição legal são alguns dos aspectos que o mundo associa á Holanda. É preciso viver aqui durante algum tempo para nos apercebermos de que estes pontos de referência não são mais do que clichés, mas que funcionam no sentido de promover o país e atraír turistas. E a verdade é que, se existem pessoas na Holanda que frequentam constantemente as famosas coffeshops e passeiam na red light district, são 90% dos casos turistas!
Os Holandeses orgulham-se do facto do seu país ter muita liberdade e do facto dessa liberdade estar sob-controlo do estado. Uma "liberdade a 50%" como muitos dizem, uma vez que foi planeada e estudada com um golo muito específico.
Pessoalmente, considero a forma deste país lidar com realidades como a prostituição ou o consumo de drogas genial e acho que o resto do mundo podia ver a Holanda como um exemplo e tomar o mesmo tipo de medidas, em vez de continuar a fechar os olhos para estas mesmas realidades que todos sabemos existir. Aceitar as coisas como elas são, lidar com as pessoas e o mundo consoante a sua natureza e resolver alguns dos problemas que estão associados a tudo isto não significa que temos que estar de acordo com eles, mas se eles existem e são inevitáveis, porque não simplificá-los e tentar mantê-los sob-controlo? "Do mal o menor!"
A aprovação do projecto de lei que legaliza a prática da eutanásia fez com que a Holanda fosse o primeiro país a autorizar o suicídio com apoio médico para aqueles que sofrem de uma doença irreversível e que enfrentam uma morte lenta e dolorosa. Claro que a Igreja tem sempre algo a dizer seja sobre que assunto for e mesmo aqui na Holanda, mas ao contrário dessa gente não considero a eutanásia uma crueldade ou um crime; vejo a eutanásia como uma protecção à vida, aspecto que a Igreja está sempre a referir, mas sob um ponto de vista totalmente oposto! Que tipo de pessoas é que podem considerar vida o estar deitado numa cama de hospital, ligado a uma máquina para poder respirar, dormir de fraldas ou tendo como único ponto alto do dia a injecção de morfina para um pequeno alívio à dor física que se sente? Se este tipo de vida não satisfaz o doente, então quem é a Igreja para querer decidir ou mesmo opinar, a importância dessa existência? Não vejo bondade nenhuma em querer perpetuar uma fase terminal à espera de um milagre e se for essa a vontade de Deus, que se deite ele numa cama de hospital.
O assunto vida e morte é complexo e difícil de entender, mas gosto de saber que sou eu e mais ninguém, quem decide o que fazer da minha vida ou da minha morte!
Eu não acho que a Holanda seja o melhor lugar do mundo para se viver (ou morrer!), mas admiro a forma como se enfrenta a verdade por estes lados. Como a prostituição, que depois de anos a fio em debate foi legalisada e as prostitutas têm os mesmos direitos e deveres de qualquer outra pessoa que trabalhe, pagando impostos e diminuindo a exploração de mulheres estrangeiras ou menores de idade. Em relação às drogas, a tolerância holandesa já existe há muito mais tempo e o que é certo é que não existe aqui a criminalidade que se vê noutras partes do mundo.
Há tempos ouvi uma frase num debate político que nunca mais me esqueci, em que alguém que lutava pela aprovação da prática da eutanásia dizia: "O que é realmente importante é proteger a vida de cada um - não até à sua extinção respiratória mas até à extinção da sua dignidade." Não podia concordar mais.

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