2.9.10

* Palavras soltas #1

"Há palavras que não significam nada. Há palavras que são ditas sem qualquer sentido, ou com o único objectivo de querer transmitir uma inteligência e sensibilidade que não se possui. Há palavras que soam como música, outras como barulhos irritantes e ensurdecedores. Há palavras que mais não são do que "blábláblás", outras que até têm conteúdo, mas que soam a "blábláblás".
Depende. Das palavras em si, de quem as diz, de quem as ouve, do momento em que são ditas, do contexto e assunto.
Já ouvi palavras e frases que me foram ditas, e que naquele momento por algum motivo, soaram maravilhosamente bem. Porque foram bem ditas, porque o momento foi o certo, e porque eram as palavras que eu, de uma maneira ou outra, precisava de ouvir. Palavras que mais tarde se recordam e nos deixam a pensar no como foi possível aceitar "blábláblás" como se fossem frases dignas de um prémio de literatura! Palavras com duplo-sentido, frases com um objectivo, acções cuidadosamente estudadas... Primeiro passo de um "blábládor": usar a honestidade de alguém para se descobrir quem são, dizer-se sempre o que se espera que querem ouvir e fazê-los sentir-se bem consigo mesmos. Segundo passo de um "blábládor": simular sensibilidade e necessidade em se saber mais do outro, fingindo naturalmente uma vulnerabilidade e fragilidade que não existem. Terceiro passo de um "blábládor": passar de discursos intermináveis de "blábláblás" a acções. Acções mecânicas e estudadas, premeditadas, acções surpreendentemente silenciosas... um bom "blábládor" é cobarde, e "blábláblár" cara-a-cara requer não só a pouca vergonha de um "blábládor", mas também uma certa dose de coragem. Um "blábládor" é fraco. As acções são rápidas, mecânicas, e tal como as palavras, são acções que no momento sabem bem, mas o tempo faz-nos olhar para trás e pensar: "para um blábládor meia acção basta, de facto!"
- Coitado! -
Saber falar é uma coisa. Saber o que se diz é outra. Sentir as próprias palavras e as dos outros, é para grandes pessoas. Querer ouvir e ser ouvido é raro.
"Blábláblás" ouvem-se todos os dias, a toda a hora, em tantos lugares diferentes. É a forma mais fácil que pessoas de mentes vazias e personalidades perdidas encontraram para se parecerem alguém.
Costumava ouvir "blábláblás". Houve até alturas em que sabia que não passavam de "blábláblás", mas mesmo assim escolhi levá-los a sério... fingir que eram palavras em vez de "b"lábláblás" e, confesso, como resposta às mesmas também "blábláblei" bastante.
Hoje em dia é diferente. Não tento, nem me esforço. Quando vejo pessoas a mover os lábios e a gesticular, mas não oiço som nenhum (tipo filme mudo!) já sei que falam "bláblábiano". E nem finjo perceber, não tento decifrar, nem olho! Viro-lhes as costas e sigo em frente.
No meu mundo não há lugar para "blábláblás"... quero dizer, talvez um ou outro de vez em quando, mas esses digo-os eu a mim mesma. Sinto que tenho o direito de me "blábláblar". Fazê-lo a outros, ou deixar que me "bláblábem" já é outra conversa! 

... mais um devaneio meu, um pensamento perdido sobre coisa nenhuma, pessoas de nada, blábláblá..."

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