Monkey Gone to Heaven, Pixies
Ás 24h00m chegamos as 4 juntas ao Bairro Alto. Mais cedo do que é costume, mas naquela noite queríamos encontrar o TóZé e sabíamos que depois da 1h00m só ele mesmo sabe onde pára... nas noites em que sabe, tenho a certeza que muitas vezes até ele anda perdido ou a fugir de alguém!
Na esquina de sempre, encostado à parede lateral do Mescal lá o vimos, com a t-shirt da O'Neil vestida que usava desde que o conheço, por isso parto do princípio que não seja a mesma, uma vez que fui apresentada ao TóZé dois anos antes, em 1990! De cabelos compridos encaracolados, calças de ganga impecávelmete limpas e ténnis All Star pretos. O TóZé - dos pés à cabeça! Aquele look é a sua assinatura. Bem, aquele look e a qualidade excelente da erva que vende. A verdade é que não são os atributos físicos do TóZé ou a roupa que veste que fizeram com que nos conhecessemos!
Na esquina de sempre, encostado à parede lateral do Mescal lá o vimos, com a t-shirt da O'Neil vestida que usava desde que o conheço, por isso parto do princípio que não seja a mesma, uma vez que fui apresentada ao TóZé dois anos antes, em 1990! De cabelos compridos encaracolados, calças de ganga impecávelmete limpas e ténnis All Star pretos. O TóZé - dos pés à cabeça! Aquele look é a sua assinatura. Bem, aquele look e a qualidade excelente da erva que vende. A verdade é que não são os atributos físicos do TóZé ou a roupa que veste que fizeram com que nos conhecessemos!
Depois de um diálogo sobre tudo e nada, entrámos com ele no Mescal para o shot de Kalashnikov da praxe. E mais um, e mais outro. 45 minutos, 15 shots e 10 cigarros no total depois, fomos juntos para o miradouro onde o "nosso TóZé" nos ofereceu um charro. Mais uma hora passou, entre fumo e risos, até que o TóZé se afastou lentamente do banquinho de jardim onde nos sentáramos e acabou por desaparecer das nossas vistas. Nem ai nem ui, nem um até já ou um adeus. O TóZé - tal e qual! Nunca sabemos por onde ele anda, nem por onde vai andar, se o vamos voltar a ver nessa noite ou noutra qualquer... acabamos sempre por o encontrar, é um facto, mas a verdade é que desde que o conheci nunca sei ao certo se o voltarei a ver, ou se um dia ele se afastará lentamente de tudo o que conhece e desaparece algures no mundo, da mesma forma como fez nessa noite ao afastar-se de nós - subtilmente, como quem não quer a coisa, e com um cuidado extremo para não ser seguido. Apesar de sentir uma simpatia enorme por aquela figura, sempre soube que o perguntar "onde vais?" ou "vais estar aí ámanhã?" não faria sentido uma vez que a nossa relação não era de amizade. Partilhávamos um respeito e confiança enormes, mas não se pode dizer que fossemos amigos. Por isso lá o via afastar-se, sempre com alguma pena em vê-lo ír e também dele, mas não sei bem porquê... acho que se a solidão tivesse um rosto, seria o dele.
Meia-hora mais tarde, muitas gargalhadas e conversas filosóficas depois, resolvemos ír beber um copo ao Perfil, o nosso local habitual naquela época. O som de Pixies ouvia-se da porta e a pressa em entrar aumentou ainda mais! Fomos olhadas de lado e de alto a baixo pelas pessoas que já se encontravam ali à porta há algum tempo quando nos viram chegar, cada uma a dar 2 beijinhos ao Nuno e a entrar. E soube bem! Desculpem a todos que ainda têm de esperar e secalhar para nada, mas o Perfil tornara-se naquele ano a nossa segunda casa. Podia estar a rebentar pelas costuras que havia sempre lugar para nós. A verdade é que fazíamos a festa, mesmo em noites em que já estava tudo a "morrer". Aquela noite não foi o caso, quero dizer, fizemos a festa como sempre, mas o ambiente estava melhor do que nunca! A música estava sempre ao nosso gosto que quase podia ser que fossemos as dj's de serviço, desde Pixies, Bauhaus, Cure, Doors, Nirvana, Clash, tudo o que nos movia estava presente naquela noite. E curtimos as 4 de uma forma tão intensa e alegre, quase como se soubessemos que seria a última noite que íamos estar juntas - as 4. A verdade é que dois dias depois passamos a ser 3. As mesmas 3 de antes, mas sem a 4a parte que nos completava. E nunca mais foi o mesmo. Aliás, foi tão difícil para cada uma de nós lidar com a falta da M., que o estarmos as 3 juntas sem ela se tornou doloroso demais. E acabámos por nos afastar umas das outras. De 4 passámos a 3, e de 3 passámos a uma para um lado, outra para outro, e mais uma sabe-se lá por onde!...
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Nothing Lasts Forever, Echo & The Bunnymen
A forma como tão facilmente algo espectacular e bonito se pode transformar num pesadelo, num vazio, num luto é assustadora. Põe muitas coisas em perspectiva e deixa-nos a sentir vulneráveis e perdidos. Dessa época da minha vida guardo duas coisas muito importantes: a amizade entre mim e 3 mulheres únicas e especiais que nunca esqueci, e a lição que tive cedo demais, de que tudo passa muito depressa e de que um dia para o outro tudo se pode tornar completamente diferente da realidade como a conhecemos, deixando-nos perdidos numa rua escura à chuva, sem saber em que direcção ír.
Há pessoas que nunca esqueci e que em diferentes fases da vida pensei nelas e até procurei "apoio" nelas, ou na memória dos tempos vividos com elas. Essas 3 mulheres foram assim. Depois da morte da M., do afastamento entre nós 3, e com o passar dos anos nunca mais as vi nem soube delas. E ao fim deste tempo todo ainda me lembro e recordo momentos que vivemos juntas. Ás vezes pergunto-me por onde andarão, se serão felizes, se estarão bem, se também ainda pensam na M. da mesma forma que eu e se recordam e guardam aqueles tempos com o mesmo cuidado e carinho que eu.
Eu guardo. E sei que vou guardar sempre. E hoje, por ser uma data que recordo ao longo destes anos com um peso no peito e uma saudade enorme, apeteceu-me falar delas.
"P., sinto a falta do teu espírito alegre e optimismo, da alegria com que sempre olhaste para a vida! J., nunca conheci uma mulher tão bonita como tu em todos os sentidos da palavra e sinto muitas vezes a falta de momentos em que passeávamos juntas e me davas a mão, num gesto de cumplicidade e segurança! E M., nunca soube o porquê... mas sempre senti um brilho triste e perdido no teu olhar... olhando para trás, adorava ter tido naquela altura das nossas vidas a consciência disso que tenho hoje. Mas não tinha, nenhuma de nós tinha. E apesar daquele brilho mais solitário que distinguia o teu olhar do nosso, foste sempre para todas nós, a mais forte, especial, a mais importante. E a verdade é que com a tua partida também o nosso grupo morreu..."
A forma como tão facilmente algo espectacular e bonito se pode transformar num pesadelo, num vazio, num luto é assustadora. Põe muitas coisas em perspectiva e deixa-nos a sentir vulneráveis e perdidos. Dessa época da minha vida guardo duas coisas muito importantes: a amizade entre mim e 3 mulheres únicas e especiais que nunca esqueci, e a lição que tive cedo demais, de que tudo passa muito depressa e de que um dia para o outro tudo se pode tornar completamente diferente da realidade como a conhecemos, deixando-nos perdidos numa rua escura à chuva, sem saber em que direcção ír.
Há pessoas que nunca esqueci e que em diferentes fases da vida pensei nelas e até procurei "apoio" nelas, ou na memória dos tempos vividos com elas. Essas 3 mulheres foram assim. Depois da morte da M., do afastamento entre nós 3, e com o passar dos anos nunca mais as vi nem soube delas. E ao fim deste tempo todo ainda me lembro e recordo momentos que vivemos juntas. Ás vezes pergunto-me por onde andarão, se serão felizes, se estarão bem, se também ainda pensam na M. da mesma forma que eu e se recordam e guardam aqueles tempos com o mesmo cuidado e carinho que eu.
Eu guardo. E sei que vou guardar sempre. E hoje, por ser uma data que recordo ao longo destes anos com um peso no peito e uma saudade enorme, apeteceu-me falar delas.
"P., sinto a falta do teu espírito alegre e optimismo, da alegria com que sempre olhaste para a vida! J., nunca conheci uma mulher tão bonita como tu em todos os sentidos da palavra e sinto muitas vezes a falta de momentos em que passeávamos juntas e me davas a mão, num gesto de cumplicidade e segurança! E M., nunca soube o porquê... mas sempre senti um brilho triste e perdido no teu olhar... olhando para trás, adorava ter tido naquela altura das nossas vidas a consciência disso que tenho hoje. Mas não tinha, nenhuma de nós tinha. E apesar daquele brilho mais solitário que distinguia o teu olhar do nosso, foste sempre para todas nós, a mais forte, especial, a mais importante. E a verdade é que com a tua partida também o nosso grupo morreu..."
Guardo de nós 4 aquilo que sentíamos e vivíamos quando estavamos juntas - união, partilha, amizade, loucuras, descobertas, cumplicidade, confiança, experiências novas, risos, lágrimas, sonhos e uma paixão extrema por tudo o que nos movia. É tudo isto, e muito mais que não consigo exprimir por palavras, que sinto ao pensar em nós 4 e que vejo sempre ao olhar para a foto que tirei de vocês 3 naquela noite, encostadas umas às outras, no banquinho do miradouro. Eu não apareço na foto, mas também estou lá. Carreguei no botão que disparou o flash da minha máquina kodak e guardando não só aquele momento, mas os nossos olhares e tudo o que éramos quando estavamos juntas, para sempre.
Com saudades,
Raquel.
Com saudades,
Raquel.
O meu problema é ter uma kodak que grava tudo não em papel mas dentro de mim.
ResponderEliminarEu entendo-te melhor que ninguém,acho eu.
Também sinto estas saudades...mesmo muitas.Dos cheiros,das expressões,das galhofas,das parvoices,das insónias e das 14h de sono seguidas no dia seguinte!
Nada será como antes mas pelo menos a Kodak não nos deixa esquecer o que é importante,mesmo que não seja em papel :)
Beijo enorme Raquel!
Adorei ler-te!! **
Oi raquel,
ResponderEliminarPuxa, este seu texto me fez lembrar de uma querida amiga que tambéms e foi cedo de mais. Como é horrível a morte que nos separa de alguém muitas vezes de uma maneira tão brusca e repentina, não nos dando chance de um ultimo abraço e nem de ter alguma notícia. Como doi ser separada de uma maneira irreversível e sentir o peso do "nunca mais" Em muitos momentos da minha vida tb penso nesta querida amiga. Saudade é o amor que fica.
Uma beijoca
Eliete
Não sentes, Raquel, que toda a nossa vida converge para um ponto, uma singularidade, e que esta está muita próxima, no futuro muito imediato? Há pedaços do passado que já não pensava há anos e que agora aterram-me na soleira da porta. Isto lembrou-me de qualquer coisa que nunca vivi pessoalmente mas ainda assim a ressonancia é forte. E como sempre muito bem escrito e sabes o que se segue a esta frase por isso mais palavras são desnecessárias
ResponderEliminarDi, disseste uma coisa que gostei - soou bem : "nada será como antes (...)" É isso mesmo que, por mais difícil que seja de aceitar, torna cada momento único e importante!
ResponderEliminarBjão enorme, gosto de saber que vais aparecendo por aqui para me leres ;))
xxx
Eli, "saudade é o amor que fica"... gostei :)
ResponderEliminarBeijo grande xx
Carlos, sinto isso exactamente como o disseste e sei que sabes isso de mim... conheces-me tão bem!... Este é um daqueles momentos em que queria estar junto de ti para falarmos durante horas seguidas, até o sol nascer!...
ResponderEliminarAdoro saber que gostas de me ler e sim, as "palavras desnecessárias" sei quais são... "sim, eu sei, eu sei..." digo-te como resposta, outra vez!... ahahah :)
*tudo acontece no momento certo, inevitavelmente ;)
Beijão grande com saudades xxx